A morte de Godard e as artes da vontade
Luiz Eduardo Soares
Muita coisa morreu com Godard, eu estava tentado a dizer. Seus filmes fizeram parte de minha formação, fazem parte de mim: Pierrot le Fou infiltrou em mim a sublevação contra os clichês, o gosto da errância, o encanto pela inconclusão. Quanta morte nessa morte, eu quase escrevi. Mas há algo mais, nessa morte: a celebração da vontade. Quando o mundo desaba sobre nós -o fascismo, a pusilanimidade-, no limiar de suas forças, acossado em trevas europeias, Godard sopra a última vela. Fui eu, ele nos diz, fui eu, ainda, o autor do gesto final. Vocês, em plena juventude, vocês, com tanto vigor nesse país brutal porém jovem, vocês, que gesto farão? A rendição é sua escolha? Vão se deixar abater como rebanho manso, nesse país imenso e solar? À luta, camaradas.