Alvo de dossiê do ministro da Justiça o antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares devolve: “não passarão”
Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia – Na próxima quarta-feira o Supremo Tribunal Federal abre um debate que promete dar panos pra manga. Na quinta-feira passada, ao julgarem o processo sobre a atuação da Agência Brasileira de Informações (Abin), os ministros do STF deram mostra de a quantas andam os ânimos para a discussão em torno de um relatório “sigiloso” contra servidores ligados a movimentos antifascistas, trazido a público pelo site Uol. A ação questiona a produção, pelo Ministro da Justiça, André Mendonça, desse “dossiê”, que ele chegou a negar, mas por fim admitiu sua existência, numa reunião a portas fechadas, com senadores da Comissão Mista das Atividades de Inteligência.
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Antropólogo alvo de dossiê feito pelo Ministério da Justiça diz que monitoramento “é apenas mais um elo na corrente que nos arrasta para o abismo”
Um dos 579 alvos de um dossiê elaborado pelo Ministério da Justiça a partir do monitoramento secreto de um grupo descrito como “militantes antifascistas”, o renomado antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Soares afirma que, com ações do tipo, o presidente Jair Bolsonaro “recria” um dos braços da polícia política brasileira durante a ditadura militar, o Serviço Nacional de Informações (SNI). “A recriação do velho SNI deixou de ser o sonho de Bolsonaro para se tornar o pesadelo da sociedade brasileira”, declarou ao EL PAÍS. O dossiê, revelado pelo portal UOL, foi elaborado pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi) da pasta e acendeu os alarmes dos que temem o uso de aparato do Estado para a vigilância ou investigação de opositores políticos do Planalto.
“A investigação clandestina contra cidadãos contrários ao fascismo é apenas mais um elo na corrente que nos arrasta para o abismo”, diz Soares, para quem as ameaças à democracia têm sido cometidas pelo Governo Bolsonaro rotineiramente. “A infiltração do fascismo se dá por toda parte, corroendo os pilares da democracia.”
O antropólogo, que foi secretário nacional de Segurança Pública durante o início do Governo Lula da Silva (PT) e é um dos fundadores do partido Rede Sustentabilidade —do qual se desfiliou, diz que já adotou os trâmites judiciais para questionar o Planalto sobre a investigação informal, conduzida pela Seopi, uma das cinco secretarias subordinadas ao ministro da Justiça, André Mendonça. As atividades não têm acompanhamento judicial.
Além de Soares, também foram monitorados os professores universitários Paulo Sérgio Pinheiro (relator da ONU e ex-secretário Nacional de Direitos Humanos), Ricardo Balestreri (secretário de Segurança Pública no Pará) e Alex Agra Ramos, que leciona na Bahia. Entre os policiais monitorados, estão os que participam do movimento autodenominado Policiais Antifascismo. Por causa das revelações, partidos de oposição ao Governo Bolsonaro também recorreram ao Judiciário para questionar as atividades. Também apresentaram requerimentos de convocação do ministro da Justiça para que ele explicasse o caso no Congresso Nacional. O Ministério Público Federal também solicitou protestaram.
Alvo de dossiê diz que governo Bolsonaro “de novo atenta contra democracia”
28/07/2020 entrevista para Rubens Valente colunista do UOL
O cientista político Luiz Eduardo Soares, 66, um dos alvos do dossiê produzido pelo Ministério da Justiça contra os policiais antifascistas e citado como “formador de opinião” do grupo, disse que recebeu a notícia com indignação. Para Soares, o governo Bolsonaro mais uma vez “atenta contra a democracia”. O dossiê, cuja existência foi revelada pelo UOL nesta sexta-feira (24), foi produzido em junho por uma unidade pouco conhecida do ministério, a Seopi (Secretaria de Operações Integradas). O levantamento listou 579 agentes da segurança púbica estaduais e federais, alguns com fotografias e endereços de redes sociais, que haviam assinado dois manifestos, em 2016 e 2020.
O relatório sigiloso inclui um subtítulo denominado “Formadores de opinião”, no qual são citados Soares, o especialista em direitos humanos Paulo Sérgio Pinheiro, o secretário estadual do Pará Ricardo Balestreri e o acadêmico da Universidade Federal da Bahia Alex Agra Ramos. Em resposta à revelação sobre o dossiê, o Ministério da Justiça tem repetido que faz trabalho de inteligência e que a Seopi integra o Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), formado por 42 órgãos públicos e centralizado no GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
O controle de territórios pelas milícias
Entrevista para o site GGN em 5/07/2020
“Eu também quero pluralismo”, diz defensor da desmilitarização da PM sobre debate que Major Olímpio quer tumultuar
Há 30 anos Luiz Eduardo Soares vem propondo debates sobre segurança pública, polícias e justiça criminal. Na próxima segunda-feira (dia 13) haverá mais um, no qual o tema desmilitarização será tratado na Procuradoria Geral da República.
Como não poderia deixar de ser, em tempos bolsonaristas o líder do PSL, Major Olímpio, convocou militares a comparecerem – fardados – ao debate. Objetivo evidente: tumultuar, inibir, baixar o nível.
Luiz Eduardo Soares, antropólogo e filósofo, já foi Secretário Nacional de Segurança Pública e não hesita em afirmar que a transição para a democracia não foi completa no país. As polícias mantiveram-se no tempo da ditadura e são agentes ativos na desigualdade e no racismo estrutural nosso de cada dia.
Autor de vários livros, recentemente lançou “Desmilitarizar” pela Editora Boitempo. Ele conversou com o DCM.
Leia Mais...»Luiz Eduardo Soares, autor de livro que inspirou Tropa de Elite: “A dupla Bolsonaro-Moro tem nos dado o inverso do que o Brasil precisa”
ANA MARIA CAMPOS
Entrevista: Luiz Eduardo Soares, secretário nacional de Segurança Pública (Senasp), entre janeiro e outubro de 2003, na gestão do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, cientista político, antropólogo, especialista em segurança e um dos autores do livro Elite da Tropa, que deu origem aos filmes Tropa de Elite.
“A dupla Bolsonaro-Moro tem nos dado o inverso do que o Brasil precisa”
Muitos governos investem em policiamento nas ruas porque o policial uniformizado cria na população a sensação de segurança, mas deixam de lado a prevenção e a investigação. Como mudar essa lógica?
A própria pergunta aponta o caminho: muda-se essa lógica, investindo-se em prevenção e investigação, o que exige transformação do modelo policial: desmilitarização, ciclo completo em cada instituição policial e carreira única.
Livro “Desmilitarizar”
O antropólogo Luiz Eduardo Soares analisa a atuação violenta das nossas políticas e discute propostas de reforma das forças de segurança. Saiba mais!Entrevistado: Luiz Eduardo Soares, antropólogo e autor do livro “Desmilitarizar”Exibição: 25 de junho
http://www.futuraplay.org/video/livro-desmilitarizar/497123/
Decreto das Armas
Como a flexibilização do porte de armas poderiam impactar a segurança pública e que efetividade este tipo de política tem?Entrevistados: Luiz Eduardo Soares, antropólogo; Robson Rodrigues, coronel da reserva da PMERJ; Fernanda Barros dos Santos, cientista política e professora da UFRJExibição: 25 de junho
http://www.futuraplay.org/video/decreto-das-armas/497125/
Luiz Eduardo Soares: “Não há crime importante no Rio de Janeiro sem a participação policial”
O antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares é considerado um dos mais importantes especialistas em segurança pública no Brasil, assunto que persiste como uma das três principais preocupações dos brasileiros. Autor dos livros “Elite da Tropa” – de 2006, que deu origem ao filme “Tropa de Elite”, de José Padilha – e “Desmilitarizar”, lançado em 2019, Soares foi secretário nacional de Segurança Pública durante o primeiro ano do governo de Lula da Silva e coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000.
O jornalista Danilo Thomaz entrevistou-o, no Rio de Janeiro, na semana em que o Senado brasileiro votou pela suspensão de dois decretos que facilitavam o porte e posse de armas de fogo, assinados em maio pelo presidente. Estes não chegaram, no entanto, à Câmara dos Deputados, onde o chumbo era provável, nem ao Supremo Tribunal de Justiça, que ia esta quarta-feira analisar eventuais inconstitucionalidades no texto. Um dia antes, Jair Bolsonaro acabou por revogar esses decretos, emitindo de seguida três novos com conteúdo semelhante. Para o fazer aprovar, enviou ainda ao Congresso um projeto de lei que altera o Estatuto do Desarmamento, mas cujos os detalhes não são ainda conhecidos. Segundo a imprensa brasileira, Bolsonaro não desistiu dos pontos mais polémicos do pacote legislativo.
Liberdade para matar é fonte de corrupção na polícia, diz Soares
Com o gesto da arminha na mão e o discurso belicista, Jair Bolsonaro e o governador do Rio Wilson José Witzel mandam um recado. Na base, os policiais entendem: estão liberados para matar. “Quando se dá liberdade para o policial lá na ponta para matar, se dá também ao policial a possibilidade de não matar e de negociar a vida. É uma moeda que se inflaciona e que degrada a instituição. É a principal fonte da corrupção, que vai levar à formação das milícias”.
O alerta é do antropólogo Luiz Eduardo Soares em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Escritor e dramaturgo, secretário nacional de segurança no governo Lula, ele está lançando “Desmilitarizar”. Editado pela Boitempo, o livro traz uma ampla abordagem sobre a segurança pública. Trata das raízes da violência, dos equívocos das políticas sobre drogas e encarceramento em massa, da necessidade de desmilitarizar as políticas. A partir de um diagnóstico denso sobre o país, aponta ideias em várias direções para enfrentar a crescente barbárie na segurança pública. Desfaz, assim, o argumento de que o setor progressista não tem projeto para essa área tão crítica.