Alto índice de homicídios é naturalizado no Brasil
Luiz Eduardo Soares propõe, dentre outras questões, a desmilitarização das polícias e alteração da lei de drogas
Por Kharen Stecca
O número estarrecedor de homicídios no Brasil não provoca comoção pública. “Como brasileiros, naturalizamos as mortes, pois em sua maioria se tratam de pessoas pobres e negras”, afirmou o professor Luiz Eduardo Soares, durante a aula inaugural do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos, no dia 20 de maio. O professor, que é autor de diversos livros sobre a área de segurança pública e acabou de lançar um livro intitulado “Desmilitarizar – segurança pública e direitos humanos”, foi convidado para falar sobre Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia no Brasil.
O professor afirma que a empatia é o que ressignifica o drama, que histórias dão vida aos números e dados. O que explica um dos motivos pelo qual ele escreveu sozinho e em parceria com outros escritores diversos livros de ficção com histórias que relatam casos envolvendo o tema da segurança pública. Para exemplificar, citou o caso de Amarildo, um de muitos desaparecimentos ocorridos após abordagens policiais. “O dado tinha rosto, história, endereço e por isso ganhou outra dimensão”.
Durante a palestra também especificou dificuldades encontradas na segurança pública como a conclusão de investigações. Segundo ele, a porcentagem de casos esclarecidos é muito pequena e, dos que são esclarecidos, muitos são ligados a violência doméstica, porque torna-se mais fácil entender e apurar o caso. “Isso faz com que muitos crimes fiquem impunes, o que não quer dizer que não se puna no Brasil”, afirma. Ele diz isso lembrando que o número de pessoas encarceradas no Brasil é muito alto, que grande parte está em prisão provisória e também uma grande parte dos casos envolve transgressão a lei de drogas. “Ao encarcerarmos dessa forma, o que fazemos é um contrato de violência futura, pois após serem presas, as pessoas têm ainda mais chance de continuar no crime ao sair da prisão”, explica.
Um outro problema levantado é a divisão das polícias, o fato de haver polícias com poder de investigação (civil) e polícia ostensiva, sem poder de investigação (militar). Para o professor, a PM – polícia mais numerosa no país – é cobrada por produção. “Produção no caso da PM é prisão, mais precisamente prisão em flagrante, que é possível sem investigação, então é essa prisão que será feita”, afirma. Esse modelo policial, casado com a lei de drogas brasileira é uma união que complica tudo, avalia Soares.
Para ele o caminho que o Brasil precisaria avaliar seria rever o modelo de policiamento, para uma polícia de ciclo completo, diminuir o encarceramento, agilizando o julgamento de prisões provisórias e mudar a lei de drogas. Ele explica que já perguntaram a ele se essa fórmula seria certeza de melhora na segurança pública. Ele afirma: “Como estudioso sabemos que não é possível dar essa garantia, mas pior do que estamos acho impossível ficar”. Ele também criticou o pacote anticrime de Moro, enviado ao Congresso: “Dar licença para matar pode gerar muitas reações, os bandidos se armam ainda mais e isso aumenta a chance de policiais morrerem e, juntamente com as condições precárias de trabalho desses policiais, que ganham salários baixos, abre-se a deixa para a criação de acordos entre policiais que se corrompem com os bandidos, dando origem às milícias”.
A desmilitarização também é outra possibilidade colocada pelo professor. Segundo ele, policiais são muitas vezes submetidos à condições de trabalho precárias e aceitam isso porque são militares e não podem reagir. “Hoje esse assunto não é debatido, porque não é de interesse dos governantes, mas a desmilitarização, no meu entendimento, seria amplamente aceita pelas bases das polícias; hoje a maior resistência está nos delegados e não nos agentes”, completa.
ENTREVISTA
O Jornal UFG também entrevistou o professor Luiz Eduardo Soares. Confira!
Quais as perspectivas para a segurança pública diante das ações propostas pelo atual governo?
Luiz Eduardo – Elas vão na contramão do que seria necessário e é consenso pelos pesquisadores e estudiosos da área e os próprios policiais mais experientes e maduros. Estamos caminhando no aprofundamento do desastre. Porque estamos no desastre há anos. Estamos intensificando as dinâmicas negativas: o encarceramento em massa, que fortalece facções criminosas; a destruição da vida de jovens negros, de periferias; a flexibilização do acesso às armas que agrava o problema que já existia. O pacote de Moro vai na contramão do que seria necessário. Ano passado foram mais de 434 mortes provocadas por ações policiais só no Rio, um recorde. Com o excludente de ilicitude, que corresponde a uma autorização para matar, uma pena de morte sem julgamento, essas execuções policiais vão se multiplicar. Outra questões também são preocupantes, como o aumento das penas e a impermeabilidade ao debate em torno da flexibilização da lei de drogas. A agenda é regressiva e obscurantista.
O governo está divulgando que diminuíram o número de homicídios no primeiro trimestre. O que diz desses dados?
Luiz Eduardo – Esse dado não inclui mortes em ações policiais. E ainda é muito prematuro para fazer uma avaliação em 3 meses. É preciso muita cautela. Não quero discutir dados, mas prefiro ser mais cauteloso e acho que é necessário ver a visão completa, com os dados de mortes em ações policiais.
A desmilitarização seria aceita facilmente pela sociedade?
Luiz Eduardo – Na sociedade não tenho dados, imagino que a resistência seria grande, porque não há um debate, não sabem do que se trata. As pessoas pensariam até que seria não ter polícia, o que não é verdade. Mas entre os policiais não acredito que seria difícil conseguir a maioria.
‘Pacote anticrime de Moro é pior do que pena de morte’
31/05/19 por Fausto Salvadori
Antrópologo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares lança o livro ‘Desmilitarizar’, em que propõe uma nova polícia; em entrevista, afirma que as propostas do governo Bolsonaro vão aumentar a violência e fortalecer o crime organizado.
“Resposta: eu não sei”. O antropólogo Luiz Eduardo Soares tem mais de 20 livros publicados, já foi secretário nacional de Segurança Pública e coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro, entre outras funções, mas tem perguntas que ele não sabe responder — e calhou de ser a pergunta que eu mais queria fazer para ele nessa entrevista: como chegamos ao ponto de idolatrar torturadores e como sair dessa?.
Soares pode não saber como chegamos aqui, mas de algo não tem dúvida: a situação da segurança pública e dos direitos humanos no Brasil só vai piorar, já que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e os de seus aliados, como os governadores João Doria (PSDB), em São Paulo, e Wilson Witzel (PSL), no Rio, se limitam a intensificar as piores práticas das gestões anteriores, que só serviram para aumentar a violência, lotar as prisões e fortalecer as facções criminosas. Sobre o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirma que vai “é uma pena de morte instituída sem julgamento”.
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Herdamos o sistema das instituições de segurança do período ditatorial
Luiz Eduardo Soares, antropólogo e cientista político especialista em segurança pública, lança o livro ‘Desmilitarizar’ (Ed. Boitempo). Ele avalia que uma desmilitarização da Polícia Militar significaria o seu fortalecimento em diversos aspectos. ‘Com isso, seria possível que toda polícia existente passasse a realizar todas as tarefas da área. Só existe no Brasil essa distinção’, explica.
Estamos indo rumo à selvageria, à barbárie
A entrevista é de Eduardo Nunomura, publicada por CartaCapital, 14-05-2019.
Antes que a entrevista acabasse, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares compartilhou notícias pelo WhatsApp que recebeu de moradores do Complexo da Maré, na zona norte do Rio, denunciando policiais militares que atiravam de dentro de um helicóptero. “Não sei se viu os vídeos do governador Witzel conclamando à barbárie, se apresentando como vingador, justiceiro, entrando ele mesmo com policiais armados no helicóptero, um negócio inacreditável”, relatou. “Essa é a nossa realidade, que invade nossa entrevista.”
Uma das maiores autoridades sobre segurança pública no Brasil, Soares estava em Nova York para ajudar na seleção de projetos da Open Society Foundations e falou sobre o lançamento do livro Desmilitarizar, da Boitempo, enquanto a violência eclodia em seu estado natal. Ironicamente, parte da sociedade aplaude e tira selfies com forças policiais, como nas manifestações em 2015, enquanto uma maioria se vê na mira de fuzis.
Crítico do governo de Jair Bolsonaro, o ex-secretário Nacional de Segurança Pública (janeiro a outubro de 2003) afirma que o “Estado Democrático de Direito não está em plena vigência” e a hora é de bloquear a derrocada.
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Entrevista para Guilherme Amado, revista Época em 02/05/2019
Defendendo a desmilitarização da Polícia Militar e uma mudança na lei das drogas, o antropólogo Luiz Eduardo Soares lança pela Boitempo, neste mês, seu novo livro, “Desmilitarizar”. O escritor é ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro e autor de “Elite da Tropa”, que deu origem ao filme Tropa de Elite.
1. O senhor dedica seu novo livro, Desmilitarizar, às mães dos policiais e dos jovens mortos no que chama de “guerra fratricida”. E diz que elas são “irmãs na dor, e que o inimigo está em outro lugar”. Quem é “o inimigo”?
O inimigo não tem rosto, não é um indivíduo, são mecanismos que construímos como nação, diante da história de nosso país, profundamente marcada pela desigualdade e pelo racismo estrutural, e que funcionam de modo a potencializar os aspectos negativos da institucionalidade.
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Quarta-feira, dia 21 de novembro, fomos gentilmente recebidos por Luiz Eduardo Soares para uma entrevista sobre o lugar das direitas no Brasil contemporâneo. A feição do dossiê, composto por temas e abordagens diversas, requeria um entrevistado capaz de articular distintos olhares para a ascensão das direitas. Luiz Eduardo preenche com sobras os requisitos. O entrevistado dispensa maiores apresentações, mas cabe brevemente mencionar sua vasta trajetória acadêmica – como professor de UNICAMP, IUPERJ e UERJ, além de visiting scholar em Harvard, University of Virginia, University of Pittsburgh e Columbia University – e ampla experiência em cargos públicos, como seu período enquanto Secretário nacional de segurança pública bem demonstra. A entrevista expõe um intelectual diretamente comprometido com causas públicas e capaz de olhar o atual momento conturbado a partir de múltiplas perspectivas, em discurso onde reflexões sobre a formação da sociedade brasileira e as tradições da nossa política se encontram com suas experiencias do mundo público. Em tempos de profundas dúvidas sobre a natureza e as saídas para a atual crise, Luiz Eduardo Soares oferece interpretações distantes do conformismo da maior parte das análises de conjuntura contemporâneas.
Leia Mais...»Segurança Pública, com Luiz Eduardo Soares
Murilo Ferraz e Marcos Carvalho Lopes recebem o antropólogo Luiz Eduardo Soares para falar sobre segurança pública para o site Filosofia Pop.
Conversación con Luiz Eduardo Soares
Librevista[2] .- En su introducción al libro Filosofía y el futuro, Richard Rorty
finaliza diciendo: “Me gusta pensar que la perspectiva filosófica que propongo
es una extensión natural del proceso de secularización que inició el
Renacimiento y se aceleró en el siglo 18. La secularización ha contribuído a
aumentar la felicidad humana. Podría producirse un mayor aumento si la
perspectiva pragmatista de la verdad se convirtiera, primero en la sabiduría
convencional entre los intelectuales, y al cabo de unos siglos en adelante, en
parte del sentido común”
(ver en http://www.librevista.com/introduccion-libro-filosofia-y-el-futuro.html)
Luiz Eduardo, ¿qué piensas acerca de esta esperanza?
Marina poderia ser favorita para 2018, mas ‘queimou caravelas com esquerda’ ao apoiar impeachment, diz fundador da Rede
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15 agosto 2017
Fundador e ex-membro da Rede Sustentabilidade, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares afirma que a líder política do partido, Marina Silva, pode ter perdido a chance de chegar às próximas eleições presidenciais como favorita após ter declarado apoio ao impeachment de Dilma Rousseff no ano passado.
“Quando ela assumiu essa posição, extremamente irresponsável do ponto de vista da democracia, acho que ela queimou as caravelas relativamente ao campo das esquerdas. Não só do PT, das esquerdas”, considera ele. “Isso circunscreve o seu potencial eleitoral e político.”
Soares elaborou as propostas das candidaturas de Marina na área de segurança pública em 2010 e 2014 e deixou a legenda em outubro do ano passado – um dos signatários de uma carta aberta em que sete intelectuais anunciaram sua desfiliação, com críticas ao partido e a sua líder.
Para Soares, Marina deixou de ser “espontânea e genuína”, o que era a sua marca, e passou adotar posições “ambíguas”, e jogar o jogo “mais tradicional” da política.
Em entrevista à BBC Brasil, o cientista político considera que o cenário para 2018 está em aberto e depende da possibilidade de Lula se candidatar ou não. O caminho até lá também é imprevisível. “Hoje o Temer já é dispensável para as elites”, diz Soares. “Eu diria que sua permanência é realmente incerta.”
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