RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL COMO ESTRATÉGIA E UTOPIA
(E o Rio, cadê?
Como o clichê, e o real,
desmanchou no ácido
de Venceslau.
E o sol, cadê?
Cadê o carnaval?
E o samba, José?
O Rio dançou?)
1. Abominações introdutórias
O Rio de Janeiro é um clichê global poderoso que está em xeque. A cidade rebelou-se contra seu retrato. O Dorian Gray urbano precisa da degradação de sua imagem-fetiche para libertar-se do feitiço e viver, assumindo os riscos e as novas possibilidades. Cumpre destruir a imagem encantada e deixar morrer o que sobrevivera às custas da fantasia benevolente. Esta é a exigência dos milhões de cariocas que se rebelam contra a domesticação imposta pela história edulcorada que contamos a nós mesmos sobre o que somos. Esta é a agenda de quem ama a liberdade e a justiça, nas suas mais variadas acepções. O tempo da autoindulgência acabou. O Rio atravessa um momento doloroso e fecundo de perigo e reinvenção. A estação de fúria e tempestades não anula o mar, o sol, o esplendor da mata Atlântica e a dança infinita, mas estilhaça ilusões e incinera a pachorra pusilânime dos cartões postais.
Leia Mais...»Pistolando podcasts – Desmilitarizar com Luiz Eduardo Soares
Podcasts para o site Pistolando
Como você definiria termos como segurança pública, ordem, criminalidade? Você certamente já ouviu falar da necessidade da desmilitarização da Polícia Militar, mas você sabe exatamente como isso é reivindicado, o que isso significa, que consequências teria, por que nunca foi feito antes, que argumentos são utilizados por quem rejeita essa ideia? Conversamos com Luiz Eduardo Soares, co-autor de “A Elite da Tropa” (sim, esse mesmo) e autor de “Desmilitarizar”, no nosso primeiro episódio em parceria com a Editora Boitempo.
Leia Mais...»Resenha do Livro “Desmilitarizar: Segurança Pública e Direitos Humanos”
Leonardo Isaac Yarochewsky 01/06/2019
No momento em que o governo Federal propõe, a um só tempo, blindar a polícia dos crimes perpetrados – vide o projeto “anticrime” do ministro da Justiça – e armar a população; no momento, em que alguns governantes estaduais defendem abertamente o extermínio de “bandidos”; no momento que as milícias ocupam o lugar do Estado; no momento em que os direitos humanos continuam sendo rechaçados e que a política de drogas continua encarcerando negros e miseráveis, fruto de um sistema penal seletivo; o antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares lança pela Boitempo o livro “Desmilitarizar: Segurança Pública e Direitos Humanos”.
Dentre os diversos temas abordados com a capacidade e inteligência que lhe são próprias, Luiz Eduardo Soares demonstra que não há antagonismo na política de segurança pública e no seu comprometimento com os direitos humanos, pelo contrário, no dizer preciso do autor, “não há política pública senão no âmbito do Estado democrático de direito, em que a Justiça toma a equidade como bússola, onde há pluralismo e reina a liberdade, a despeito dos inevitáveis limites e todas as contradições”.
Luiz Eduardo Soares desfaz o mito de que nos regimes totalitários há mais segurança que nos regimes democráticos. Segundo o antropólogo, o número (quantidade) de crimes por si só – evidenciado em países totalitários – não basta para definir a segurança. A ideia de que mais repressão, tortura, execução (pena de morte), censura, perseguição etc., próprias de regimes autoritários e de exceção gerem mais segurança é falsa. Afinal, diz o autor, “a paz dos cemitérios não figura em nosso sonho feliz de cidade”. Necessário notar, segundo Soares, a forte presença do medo nas sociedades autoritárias e nos regimes totalitários, o que corrobora a ideia de que “sob o totalitarismo não há segurança, porque o medo é onipresente e corrói a segurança”, a começar pela Justiça.
Em sua mais recente obra, o autor faz necessárias críticas à atual política de segurança pública e em especial a que se refere a Polícia Militar e a Justiça Criminal “como promotoras de desigualdades”. Trabalhando com dados e com pesquisas – Mapa da Violência e Censo – Luiz Eduardo Soares demonstra como o sistema penal é violentamente seletivo, matando e encarcerando negros e pobres. Assim, entre 2002 e 2010, segundo o Mapa da Violência publicado em 2012, o número de vítimas brancas caiu 27,5%, enquanto a quantidade de negros vítimas de homicídio cresceu 23,4%. Os dados demonstram claramente que negros e pobres são as principais vitimas da violência e alvos preferidos do perverso sistema penal.
Por tudo, o antropólogo e pesquisador Luiz Eduardo Soares propõe uma nova e revolucionária política de segurança pública com a desmilitarização da polícia.
Para saber mais, recomenda-se a leitura dessa indispensável obra escrita por um dos mais importantes pensadores da segurança pública no País.
O sentido de uma história depende do ponto a partir do qual começamos a contá-la
Este é o primeiro capítulo do livro Justiça, pensando alto sobre violência, crime e castigo, de Luiz Eduardo Soares, publicado pela editora Nova Fronteira, em 2011.
I. O sentido de uma história depende do ponto a partir do qual começamos a contá-la
Cheguei a Recife atrasado para a palestra na universidade. Não estava muito a fim de papo. Não que eu seja um sujeito antipático. Acho que não sou. Costumo gostar de conhecer pessoas e conversar. Além disso, táxis são ótimos veículos para conhecer a cidade e seu espírito, e as opiniões médias da população sobre política, sexo, crime e futebol. O método não é lá muito científico, mas funciona. A gente fica com uma visão geral do que a sociedade tem discutido. Entretanto, naquele dia não queria prolongar muito o diálogo. Estava preocupado com a hora e com as expectativas de meus colegas. Eles tinham sido muito gentis quando me convidaram, e eu não queria decepcioná-los.
Não tinha jeito. Enquanto eu tentava repassar a palestra de memória – primeiro: definir violência; segundo: apresentar os dados nacionais e internacionais; terceiro: discutir as causas; quarto: apresentar possíveis soluções –, o taxista insistia em puxar assunto. Contava uma história depois da outra e nem esperava para ouvir minha opinião. Emendava logo a próxima. Parecia a Rádio Relógio. Eu tentava escapar, misturando a rememoração dos temas que planejara abordar com as paisagens belíssimas de Recife e Olinda.
Leia Mais...»Life and Death in Rio de Janeiro
By Jez Smadja to Los Angeles Review of Books
IN THE BOOKSHOPS with weeks to go before the 2016 Summer Olympics, Luiz Eduardo Soares’s Rio de Janeiro: Extreme City is possibly not the book that the International Olympic Committee, the Visit Rio tourist board, the mayor Eduardo Paes, or indeed many cariocas — a breed of people particularly sensitive to any slurs against their city — will want you to read. There’s barely a mention of the breathtaking scenery, the historic samba schools, the state-of-the-art museums it has delivered in time for the Games, or the new metro extension and light rail system it hasn’t, or not yet at any rate.
Leia Mais...»One country, two worlds
Resenha publicada na revista The Spectator por Robert Collins
In October 1964, Charles de Gaulle visited Brazil. The country was six months into its military dictatorship. In April of that year, there had been a relatively bloodless coup against the sitting president, João Goulart, who one morning found a tank pointing its muzzle at his residence in Rio. The ensuing military regime lasted for two decades,and routinely tortured its dissidents. One of those tortured was a 22-year-old female member of a militant guerrilla group who was arrested in 1970 and subjected to paddle beatings and electric shocks to her ears, feet, breasts and thighs. Today, she is president. This is Brazil’s fairy tale.
Leia Mais...»Purgatório da beleza e do caos
Ângela Faria
Estado de Minas: 16/10/2015
Luiz Eduardo Soares tinha 10 anos quando abriu a janela e deparou com um canhão apontando para seu quarto. Era fim de março de 1964, o prédio ficava entre os palácios da Guanabara e do Catete, alvos tanto dos militares que deflagraram o golpe, apoiado pelo governador fluminense Carlos Lacerda, quanto das forças pró-presidente João Goulart. Violência difícil de esquecer, aquela. Quase meio século depois, lá estava ele, aos 59, intelectual respeitado, fugindo da polícia a alguns quilômetros dali durante a gigantesca manifestação das jornadas de junho de 2013, correndo de agentes da lei que se divertiam em atirar gás lacrimôgeneo sobre a multidão e até dentro de restaurantes. Brutalidade difícil de esquecer.
Leia Mais...»Crônicas da violência revelam o Rio de Janeiro atual
Antropólogo Luiz Eduardo Soares faz literatura de grande qualidade em livro que expõe anatomia da violência nacional
- Sandro Moser
Texto publicado na edição impressa da Gazeta do Povo de 12 de outubro de 2015
Rio de Janeiro. Cidade da festa e do samba. Sensualidade, praia e natureza exuberante. Criativa, acolhedora, “malandra”, no bom sentido; maravilhosa, enfim. Essas qualidades constam dos anúncios de pacotes de viagens que vendem a experiência de conhecer o Brasil a partir do Rio em agências pelo mundo afora.
No livro “Rio de Janeiro – Histórias de Vida e Morte”, o antropólogo Luiz Eduardo Soares mostra que, ainda que alguns dos itens do clichê sejam inegáveis, a experiência urbana no Rio é amplamente superada por aspectos negativos que impõem a necessidade de reinventar a cidade – que no livro serve, mais uma vez, como metáfora do Brasil.
Zero zero zero: visão penetrante, conclusiva, e que não autoriza ilusões
Leia a seguir a versão completa da resenha de Luiz Eduardo Soares de Zero zero zero, livro de Roberto Saviano.
Cada um de nós tem suas admirações particulares. Roberto Saviano é um dos meus heróis desde que li Gomorra e soube de sua saga pessoal. Agora, em Zero zero zero, seu livro mais recente, ele foi ainda mais longe. Saviano atua em um gênero que pinça o nervo de nosso tempo: convencionou-se denominá-lo jornalismo literário. Para os céticos, esse título significa nem literatura, nem jornalismo.
Leia Mais...»UOL seleciona 10 lançamentos de grandes autores da Flip 2012
A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) concentrará em uma única cidade, entre os dias 4 e 8 de julho, autores consagrados, como Ian McEwan, Jonathan Franzen, J.M. Le Clézio, Jennifer Egan e o brasileiro Luiz Eduardo Soares. Os mesmo autores aproveitam a aproximação da festa para colocar novas obras no mercado.