Maria da Conceição Tavares
Amigas e amigos, dificilmente alguém mais jovem, que não tenha vivido a ditadura e, já adulto, seu ocaso, pode ter uma ideia do que representava Maria da Conceição Tavares para minha geração e as anteriores. Eu não perdia nenhuma oportunidade de vê-la e ouvi-la, onde quer que a convidassem a falar. Ela nos ensinava a pensar o Brasil e, ao mesmo tempo, em cada aula ou palestra, emprestava sua voz à revolta profunda que sentíamos. Ela era fúria e paixão, mas sua lucidez não sofria nenhum abalo, as palavras fluíam precisas, escapando ilesas do incêndio vulcânico que a tomava da cabeça aos pés e nos lançava à luta. Obrigado por tudo, professora. Precisamos mais do que nunca do fogo que a senhora nos legou. – Luiz Eduardo Soares
Lançamento “2066”
Foi uma alegria, pra mim e meu parceiro Rafael Coutinho, reencontrar tantas amigas e tantos amigos, nos lançamentos paulista e carioca de nosso livro “2066”. Escrever um romance sobre o futuro e desenhar o Rio que virá foram tarefas que nos ocuparam por anos. Espero que quem leia e experimente as intervenções gráficas se emocione tanto quanto nós e se anime a construir alternativas, na prática da vida cotidiana. A missão é de todas e todos nós. Muito obrigado a quem esteve presente, a quem nos enviou mensagens, à receptividade generosa de tanta gente. A vocês, meu abraço afetuoso e grato.
Leia Mais...»Obrigado por tudo, Jô
Facebook, 05/08/2022
Que tristeza a partida de Jô Soares. Fui a seu programa poucas vezes, acho que foram quatro, sempre experiências fraternais e gratificantes. Ele sempre foi comigo muito respeitoso e inteligente, e eu o admirava. Numa das vezes, defendi a legalização das drogas e o fim do encarceramento de jovens varejistas do comércio de substâncias ilícitas. Ele reagiu um pouco, não parecia convencido, pelo menos fez ali o papel do advogado do diabo. Mas foi amigável e ouviu meus argumentos. Acontece que a produção, para compensar, havia convidado um certo deputado, chamado Jair Bolsonaro, que seria entrevistado logo depois de mim. Era 2005. Quando o capitão, feroz, tentou desmoralizar meu argumento e disse que daria um tiro na testa do jovem a que eu havia me referido, Jô, que me parecera, enquanto eu falava, crítico de minha posição, deu ao deputado uma aula, reapresentando sinteticamente, mas com precisão, minha análise. Puxou o tapete sob os pés do capitão que se reportara a mim com grosseria e arrogância. Tirei o chapéu pro mestre Jô, dei-lhe um abraço, no final. Hoje, tiro de novo meu chapéu e lhe dou o
abraço final, com muito pesar. Obrigado por tudo, Jô.
Querida bisneta
Querida bisneta (que um dia há de nascer),
sinto que lhe devo uma explicação. Lego a você e sua prole, se houver, um país de canalhas. Seria fácil lhe pedir desculpas, dizer que me esforcei para evitar, mas a verdade é que fui, sim, responsável. Caí na esparrela de que não havia mais nada a fazer. Caí porque era conveniente. Para não pôr tudo a perder, pus tudo a perder. Não incendiei catedrais, não matei o tirano, não parei o trânsito de todas as cidades como um assassino decente teria feito, não providenciei o desespero dos genocidas, não despedacei o corpo do imperador, não invadi a casa-grande, não pendurei o senhor pelos pés, não injetei o sangue dos mutilados no coração dos traidores, não calcinei a terra dos violadores, não violei o túmulo dos cínicos, não persegui os torturadores até o inferno, não reparei que a gentileza era lúgubre e cúmplice, não vi o que se podia ver e era demasiado, não quis pra mim o horror que é sua herança, não tive coragem de não ser bom, não fiz o trabalho sujo que meu tempo exigia, não quis figurar na galeria dos bárbaros, não quis carregar nos ombros a pilha de cadáveres, não quis o punhal e a dor das mães, não quis o fardo de pulhas abatidos, não pronunciei a palavra maldita, não levei até o fim a exumação da história infectada do Brasil, não infectei com o veneno de minha revolta a alma santa dos delicados.
Luiz Eduardo Soares (abril de 2020, ano 1 da pandemia)
Desmilitarizar – Segurança pública e direitos humanos
Polícias, drogas, milícias, combate à corrupção e raízes da violência. Esses e tantos outros temas são examinados aqui pelo autor do livro que inspirou o filme Tropa de elite. Luiz Eduardo Soares propõe iniciativas objetivas e imediatas para alguns dos nossos mais graves problemas sociais.
Agenda de lançamento:
Segunda-feira, 20 de maio, às 19h // UFG
“Segurança pública, direitos humanos e democracia no Brasil”
Aula inaugural do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos – UFG
Sexta-feira, 24 de maio, às 18h30 // Livraria Leonardo Da Vinci
Debate de lançamento de Desmilitarizar com Coronel Íbis Pereira (ex-comandante geral da PMRJ), Jurema Werneck (Anistia Internacional), Jandira Feghali (PCdoB) e Marcelo Freixo (PSOL).
Segunda-feira, 27 de maio, às 17h30 // UFPE
Lançamento de Desmilitarizar no I Congresso Nacional de Policiais Antifascismo
Quinta-feira, 29 de maio, às 17h // V Salão do Livro Político (Teatro Tucarena)
Debate “Do tráfico à milícia: o estado paralelo que mata Marielles todos os dias”, com Camila Nunes Dias (UFABC), Henrique Carneiro (USP) e Douglas Belchior (Uneafro-Brasil)
Debate de lançamento de Desmilitarizar com Dra. Eunice Prudente (USP), Monica Seixas (PSOL), Paulo Teixeira (PT) e Bruno Paes Manso (USP).
Texto publicado no Facebook em 02/03/2019
Os americanos assistiram à execução de Sacco e Vanzetti
Em Guantánamo, condenados a enlouquecer jamais serão julgados
Ustra estupra sempre pro gozo patriótico d’ilustres canalhas
O país do Pau Brasil definha pusilânime, exangue
Desfila a xepa hipócrita de suas culpas, carnaval
Leia Mais...»Ricardinho, pequena homenagem à sua memória
Luiz Eduardo Soares
Essas lembranças são uma pequena homenagem à memória de Ricardo Benzaquen de Araújo, amigo da vida toda. Se me incluo no relato, é porque, em vez de uma descrição distante e objetiva de sua obra, prefiro dar o testemunho dos efeitos de sua presença em minha vida.
Conheci Ricardo nos pilotis da PUC, no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970. Eu, calouro, ele já na metade do curso; eu em Letras, ele em História. A despeito das escolhas diferentes, logo nos encontramos nas admirações comuns, entre elas, e com destaque, o professor Luiz Costa Lima. Lembro das conversas animadas com uma tribo muito interessante, que incluía Sérvulo Figueira, George Lamaziére e Eduardo Viveiros de Castro. Apesar da atmosfera carregada –afinal, vivíamos os anos mais sombrios da ditadura–, havia ali uma vitalidade apaixonante. Éramos ambiciosos, irônicos e críticos corrosivos de quase tudo, e nos divertíamos, sem perder a conexão com o sentido dramático do tempo.
Leia Mais...»Bate-papo & Noite de autógrafos: Rio de Janeiro – histórias de vida e morte
Terça | 15 | setembro
Bate-papo & Noite de autógrafos: Rio de Janeiro – histórias de vida e morte
Autor: Luiz Eduardo Soares
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
O antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro que inspirou o filme Tropa de elite, conhece o Rio de Janeiro como poucos. Pesquisador de renome e ex-integrante da área de segurança pública dos governos estadual e federal, convive há décadas com as mazelas da cidade: o tráfico de drogas, a corrupção policial, a violência. Este livro é resultado dessa experiência singular. Escrito com mão leve, ritmo de thriller e faro jornalístico, Rio de Janeiro é um retrato impactante sobre as desigualdades, o racismo, a degradação da política, a violência do Estado e o ódio que se derrama sobre a cidade, colocando em risco a beleza exuberante do eterno cartão-postal do Brasil.
Local: Shopping Leblon
Horario: 19:00
Meus 10 mandamentos, escritos diretamente no facebook, numa noite de insônia (de 18 para 19 de dezembro, 2013)
No meu caso, a exaustão provocou insônia e vontade de compartilhar meus “10 mandamentos”, que podem ser nove ou vinte e um. São minhas crenças, minha religião, algumas coisas que aprendi ao longo da vida:
Leia Mais...»