Depois do filme: o homem e a ponte
Publicado 21/08/2023

Aderbal Freire-Filho em cena de “Depois do filme”, monólogo que ele apresentou no FIT-BH em 2012 (Nil Canine/Divulgação)
Um roteiro é lido no palco e (quase) tudo, até as posições da câmera, deve ser construído pelo espectador, que vê alguém prestes a deixar a vida. Com este espetáculo limite, Luiz Eduardo Soares conclui sua homenagem a Aderbal Freire-Filho
É a terceira vez que escrevo sobre espetáculos de Aderbal Freire Filho. Escrevi sobre O Púcaro Búlgaro, Moby Dick e, agora, compartilho com os leitores algumas impressões sobre Depois do Filme. Como, em matéria de produção acadêmica, teatro, cinema e literatura, só escrevo sobre o que admiro, me dá prazer e me encanta, a sequência constitui, em si mesma, modesta homenagem pessoal: expressa o reconhecimento da qualidade e a reverência pela obra de Aderbal. Por falar em admiração e apreço, cito meu saudoso mestre e amigo, Richard Rorty, que dizia mais ou menos assim: “Não gostou? Faça diferente.”
Leia Mais...»Aderbal e a baleia
Na segunda resenha em homenagem ao diretor, morto no dia 9, Luiz Eduardo Soares analisa sua linha de fuga ao impasse político entre o pacto fáustico e o idealismo inócuo. A anti-terceira-via é Moby Dick: a infinita caça ao monstro, a morte como norte
O sopro do abismo e o assobio do teatro
Publicado 10/08/2023
Em homenagem à memória do querido e saudoso Aderbal Freire-Filho, que nos deixou em 9 de agosto, volto a publicar a resenha que escrevi, em novembro de 2006, sobre um de seus mais lindos espetáculos. Meu sentimento é de gratidão por tudo que nos deu.
Você já foi à Bulgária?
Aderbal Freire-Filho dirigiu um espetáculo primoroso e inesquecível, com atores notáveis e excelentes soluções na cenografia, nos figurinos, na sonoplastia e na iluminação: O Púcaro Búlgaro, que ainda pode ser visto no Teatro Poeira, em Botafogo, no Rio de Janeiro – pelo menos por mais algumas pouquíssimas semanas. A montagem põe em cena o romance homônimo de Campos de Carvalho, literalmente, digo, teatralmente, digo… Bem, é melhor explicar. Será possível? Acho que não. Melhor você conferir pessoalmente. Enquanto isso, algumas palavras à guisa de convite.
Leia Mais...»Carta aberta ao ministro Flávio Dino
Artigo por RED
De LUIZ EDUARDO SOARES*
A potência invisível dos Conselhos Tutelares
Publicado 20/06/2023 no site Outras Palavras
Em Campo Grande (bairro do Rio de Janeiro), fica a Vila dos Anjos, onde a terra devora, aos poucos, um conjunto de prédios fantasmagóricos de propriedade da Caixa Econômica Federal. As janelas do primeiro andar já desceram ao nível do solo. O terreno pantanoso é impróprio para edificações, o que não impediu que os prédios fossem construídos, embora não concluídos. Hoje, afundam, lentamente. Metáforas vivas do avesso da vida. Em longa agonia, a casa vira sepulcro. Só falta o portal dantesco em que se lesse: “Vós, que entrais, deixai aqui toda esperança”. Quatrocentas famílias os ocuparam, sob o patrocínio da milícia local. Os moradores das espeluncas não recebem serviços regulares, exceto a água que chega ao único banheiro disponível. Isso mesmo: um único banheiro atende a todo o condomínio. Desvios, por fiação clandestina, do tronco de energia garantem a luz. O esgoto é escoado a céu aberto. A despeito dessas condições, os milicianos cobram R$20,00 por mês de cada família. Na região, 120 crianças estão fora da escola.
Leia Mais...»“Todos os lados se envolveram nas manifestações”
No dia 22 de junho de 2013, o EEMM publicava uma entrevista com o antropólogo, cientista político e escritor Luiz Eduardo Soares intitulada “Não vimos esse filme”. Nela, o pesquisador apresentava suas impressões sobre a revolta que tomava as ruas de todas as regiões do país. Agora, dez anos depois, ele voltou a falar com o EEMM para analisar, com o distanciamento histórico, as jornadas de junho.
O Brasil na teia viscosa da chantagem neoliberal
Por Luiz Eduardo Soares para o site Outras Palavras
Em Labirinto Reacionário, Valério Arcary analisa com agudeza crítica os embates estruturais da sociedade brasileira na última década. Disseca como a Faria Lima encurrala Lula – e aponta meios de reverter o ciclo vicioso do financismo
Labirinto reacionário: o perigo da derrota histórica1 é um livro importante, escrito por um dos principais estudiosos dos desafios políticos contemporâneos, Valério Arcary, cuja maturidade intelectual corresponde à experiência de 49 anos de militância nas lutas populares pelo socialismo. O peso da longa travessia, entretanto – e esse é um dos encantos da obra –, não anula a leveza de quem se recusa a renunciar à esperança. Os capítulos, escritos a um só tempo como intervenções políticas e exercícios reflexivos, mantêm o leitor (relevem o masculino) alerta, mobilizado, inquieto, não raro emocionado e sempre induzido a pensar e repensar com independência e espírito crítico, contemplando o retrato fugaz da conjuntura à luz da história e do horizonte transnacional. Densidade analítica, honestidade intelectual e engajamento coexistem, nos textos de Valério, sem concessões mútuas, o que soaria paradoxal apenas a quem supusesse que envolvimento político-partidário implicasse, necessariamente, negar os processos complexos, cambiantes e contraditórios da realidade social para validar concepções congeladas ou autoritariamente impostas.
Leia Mais...»Independência e morte, bradam as polícias do Rio de Janeiro
Por LUIZ EDURADO SOARES*
O enclave policial é refratário à autoridade política e nenhum governador jamais comandou (plena e efetivamente) as polícias estaduais
O título exato deste artigo deveria ser mais extenso: As polícias fluminenses, por meio de seu porta-voz, o governador, proclamam a independência e declaram que o Rio de Janeiro passa a ser território livre dos limites constitucionais. Explico.
Leia Mais...»Meu casaco de general, com Luiz Eduardo Soares
Marcos Carvalho Lopes e Ana Sônia Gomes dos Santos conversamos com o filósofo, antropólogo, cientista polítio e professor Luiz Eduardo Soares poara uma conversa que teve como mote o seu livro Meu casaco de General: Quinhentos dias no Front da segurança pública no Rio de Janeiro, lançado no ano 2000, finalista do prêmio jabuti, texto fundamental para pensar a segurança pública no Brasil. No esforço de recontextualização dessa obra o professor Luiz Eduardo Soares nos proporciona toda uma narrativa sobre a trajetória política do país, em que um processo de redemocratização problemático não questionou premissas de práticas autoritárias que continuam e retornam como um sintoma impensado.
Leia Mais...»CIA, Sicília e Rio Grande do Norte
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
Lições para bloquear o fascismo brasileiro
Impactante o artigo que Seymour Hersh publicou esta semana em seu blog no Substack, desta vez não mais sobre o ato terrorista cometido pelo governo estadunidense contra os Nord Stream Pipelines, que levavam gás russo à Alemanha, mas sobre a operação secreta deflagrada pela CIA contra a máfia na Sicília, por determinação dos irmãos Kennedy. Na ocasião, John era presidente e Bobby, attorney general.[i]
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