A condenação perpétua de Silvio Almeida
Em nome do respeito que o ex-ministro merece, em nome do respeito que merecem mulheres vítimas, eu me pergunto se não está na hora de virar a chave da judicialização, da policialização e da penalização
Vocês acham que não tem nada a ver com racismo, a velocidade fulminante com que se acusou, julgou e condenou à abominação perpétua e irrevogável um homem, um homem negro brilhante, devotado à luta antirracista, que por sua capacidade e trajetória se destacava como postulante a posições de liderança em âmbito nacional e internacional? Vocês acham mesmo que a sem-cerimônia com que se lhe marcou o lombo com a figura em brasa do banimento nada tem a ver com a cor desse homem, com sua ancestralidade, com a negritude retinta de sua pele? Silvio Almeida, em menos de 24 horas, foi banido da pátria dos cidadãos decentes e honrados, aqueles a quem se concede voz e dignidade. Faria sentido que ele viesse a ser para sempre um apátrida, vagando entre o desprezo arrogante da direita e a repulsa inflamada da esquerda? Um homem invisível?, não, pior.
Leia Mais...»Convite
Em 2011, aos 47 anos, Patricia Acioli pagou com a própria vida a ousadia de honrar sua função, enfrentando a violência policial e o poder tirânico das milícias. Manter vivo seu legado ilumina a urgência de construirmos diálogos sem fronteiras sobre caminhos para mudanças.
A Cátedra é um espaço de pesquisa interdisciplinar sobre ética, justiça e segurança pública. Coordenada por Luiz Eduardo Soares, em parceria com Eliana Sousa Silva, Miriam Krenzinger e Leonardo Melo, se insere no CBAE/UFRJ, dirigido por Ana Celia Castro.
Contamos com sua presença.
Enquanto anoitece (por Marcos Rolim)
“Raimundo Nonato” é um convite à reinvenção de um país que se perdeu na brutalidade e na ausência de caráter.
Marcos Rolim (*)
Luiz Eduardo Soares, intelectual respeitado internacionalmente, tornou se uma referência no Brasil em qualquer debate sobre segurança pública por conta da profundidade de suas reflexões e pela sua capacidade como gestor. Ideias como o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), a reforma do modelo de polícia ou o projeto da “Delegacia Legal”, para citar apenas três temas relevantes, devem muito a sua ousadia e capacidade crítica. Quem acompanha a trajetória do antropólogo fluminense sabe também da delicadeza de seu texto que já rendeu obras maravilhosas como “Elite da Tropa”, “Espírito Santo”, “Rio de Janeiro: histórias de vida e morte” e “Tudo ou Nada”, entre tantos outros. Faz muito que leio tudo o que Luiz Eduardo escreve com o prazer de ser sempre surpreendido e de aprender a cada espanto. Eis que surge “Enquanto Anoitece” (Todavia, 155 p.), seu mais recente romance, lançado ao final de 2023 e que acabo de ler.
Sinais de inundação: Safatle e os refugiados da linguagem
Para revisita Cult 28/05/24
Nada mais frívolo do que evocar minha emoção, quando se trata de introduzir a futuros leitores/leitoras (ou releitoras) uma obra extraordinária, que faz o pensamento triunfar sobre tantos desabamentos de que presta testemunho – desde logo a ruína da linguagem em que se arma a trama do capitalismo. Capitalismo que se reifica e naturaliza, inscrevendo-se nos sujeitos como medida de realidade, virtude e beleza, confundindo-se – transparente – com a razão, esgotando o campo do possível, abolindo o desejo e a insubmissão revolucionária. Que seja frívolo e impertinente, e desproporcional, considerando-se a magnitude do gesto que deu à luz este alfabeto de colisões, ainda assim ouso convocar aqui essa emoção íntima, fútil, doméstica, tão pequena e débil: a emoção que tantas vezes me impediu de seguir lendo o livro de Vladimir, por um encantamento de que, em meu caso, só a arte fora capaz – um encantamento que é desmesura e perturbação, perturbação que rima com autorização para ousar.
Leia Mais...»O POETA MATUTINO PALITA MOLARES E CANINOS EM COPACABANA
Para Revista Z Cultural
A marca de nosso tempo, seu umbral – a grave fronteira que cumpre atravessar, arrastando trapos, ruínas, culpas e esperanças –, o signo por excelência – a celebrar, inverter e esconjurar –, a referência paradigmática de nossos dilemas, pessoais e coletivos, o centro, o novo e arcaico centro gravitacional para as cosmologias em trânsito, o eixo que ordena o regime de afetos e afia o gume das horas, a marca, portanto, de nosso tempo é Fausto.
Leia Mais...»Madona e o Dilúvio
(5/05/24)
Luiz Eduardo Soares
Soube que o show da Madona foi um verdadeiro exorcismo da caretice, do reacionarismo, do fundamentalismo que infestou o Brasil e ensaiou um golpe de Estado. Leiam o lindo post de Ivana Bentes. Mas, infelizmente, nem deu tempo de curtir e celebrar, porque o Rio Grande do Sul está sendo devastado pela maior tragédia ambiental de sua história, que é também desastre social, porque o peso maior dessas crises recai desigualmente sobre os mais pobres, embora afete todo mundo.
Leia Mais...»Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024)
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
Nota de homenagem ao sociólogo carioca recém-falecido
Amigos e amigas, perdemos, ontem, 21 de fevereiro, um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 86 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento. Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 1970, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Karl Marx e Antonio Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.
Leia Mais...»As palavras apodrecem
20/02/2024
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
As palavras estão vazias, evocam mas não substituem os corpos empilhados em Gaza, apodrecendo em Gaza
O mais dilacerante sofrimento humano não é nomeável, descritível, muito menos mensurável. Transborda os limites da linguagem e de qualquer medida. Sua natureza é a incomensurabilidade. Por isso, quando provocado, este sofrimento, por ações alheias evitáveis, não pode ser justificado, não cabe em nenhuma sequência moralmente motivada de atos.
Leia Mais...»A democracia brasileira não vai à praia no Rio
Revista Forum, 26/12/23
“Não há inocentes na periferia, nas favelas não há, assim como em Gaza. Cancelem as linhas de ônibus, murem os morros, invadam as favelas, exterminem os malditos. Pau nos moleques, essa é a língua que eles entendem”.
Dedicado a Manuel Domingos, Pedro Celestino e André Castro
Castro está perdido e Lula evita se envolver mais com crise no Rio, diz Luiz Eduardo Soares
25/10/23
Entrevista para Coluna de Bernardo Mello Franco, O Globo
O governo do Rio está perdido, e o governo federal evita assumir mais responsabilidade pela crise na segurança do Rio. A análise é de Luiz Eduardo Soares, que comandou a Secretaria Nacional de Segurança Pública na primeira gestão do presidente Lula.
O antropólogo vê com ceticismo as ações anunciadas pelo Ministério da Justiça e afirma que não haverá solução para a crise sem uma reforma profunda nas polícias.
Como vê a crise de segurança no Rio?
O governo do Rio está perdido. O nível de degradação das forças policiais é muito grande. Há um ano, assistimos à prisão de Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil, acusado de envolvimento com o jogo do bicho. Passou batido, ninguém fala mais nisso. Agora deputados ligados a milicianos indicaram o novo secretário. Não há nenhum esboço de reforma e saneamento das polícias. Esta é a questão chave da segurança pública no Rio. Enquanto não for enfrentada, não haverá solução.