Ex-secretário nacional de segurança pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares argumenta que “não é razoável continuar discutindo segurança com foco exclusivamente na criminalidade e em organizações criminosas”.
Notas sobre um cenário em desarranjo
Para o site Outras Palavras – 18/02/25
Quanto mais segue a cartilha neoliberal, mais Lula se enfraquece e amplia os riscos de derrota em 2026. O diálogo pode ser um primeiro antídoto. Governo deve expor quem bloqueia as mudanças. E o conjunto da esquerda pode servir-se da palavra para escapar de três tendências desastrosas
Difícil escapar dos temas que nos angustiam, sobretudo quando nos desafiam tanto intelectual quanto politicamente. Em retrospecto, parece que foi mais fácil compreender o golpe de 1964 e a transição democrática -com suas virtudes, seus limites, suas contradições- do que os revezes que precipitaram o impeachment golpista de Dilma Rousseff, marcando a ruptura do pacto celebrado em 1988, e culminaram com a ascensão do neofascismo bolsonarista -derrotado por um triz, em 2022, mas ainda um espectro no horizonte a nos assombrar, sobretudo após a vitória de Trump. Mais fácil compreender talvez porque o contemporâneo seja sempre mais desafiador, ou talvez porque nossas categorias estivessem mais ajustadas àquele mundo. O fato é que o quadro geopolítico é dramaticamente complexo, especialmente depois do genocídio em Gaza.
É urgente retomar a esperança
Premido pela onda obscurantista e pela crise internacional, o governo Lula ruma para o colapso
VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)
Agindo de forma reativa, enlaçado pela corrupção parlamentar, premido pela onda obscurantista e pela crise internacional, o governo Lula ruma para o colapso. Cabe reagir sem demora.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia em Brasília em janeiro deste ano – Ueslei Marcelino/Reuters
Eleito pela mobilização contra a extrema direita, Lula não exibiu proposições claras e consistentes na campanha. Prometeu extinguir o teto de gastos, incluir o pobre no orçamento, rever a reforma trabalhista, valorizar o serviço público, garantir gasolina barata, reestatizar a Eletrobras e botar picanha e cerveja na mesa do povo.
No governo, prendeu-se ao fiscalismo ao gosto dos banqueiros. Estabeleceu meta de inflação inalcançável, argumento para o Banco Central elevar a taxa de juros. Essa camisa de força inviabiliza o bom serviço público, inibe investimentos produtivos e o atendimento aos mais pobres.
Crescimento do PIB, do emprego e da renda não bastam à sociedade. O corte de gastos resultante da obsessão fiscal fomenta a desesperança.
O preço da comida, a insegurança pública, a dificuldade de locomoção e a carência de moradia frustram as expectativas do povo.
Leia Mais...»O dragão na sala de visitas: democracia, defesa e segurança pública
29 de novembro de 2024 para o Portal Grabois
A maior parte da opinião pública politizada que se identifica com o campo progressista e democrático talvez ainda não tenha compreendido a natureza institucional dos problemas graves de insegurança que vivemos no país. O fato é que convivemos há tanto tempo com um dragão adormecido na sala de visitas, que nos acostumamos a falar baixo e contorná-lo para evitar que desperte e faça sabe-se lá o quê. Não é confortável, mas muitas coisas na vida tampouco o são, mesmo assim aprendemos a normalizá-las. O dragão entre nós são os enclaves institucionais representados pelas Forças Armadas e pelas polícias. Enclaves porque, embora essas corporações e os limites de sua atuação estejam estabelecidos na Constituição, elas têm se mostrado refratárias à autoridade civil e política, e portanto às determinações constitucionais.
Fim da escala 6×1 e atentados bolsonaristas: mais uma chance para o Brasil
Publicado em 23/11/2024 no Blog Boitempo
A obra prima de Carlos Drummond de Andrade “A Máquina do Mundo” descreve o momento extremo em que se decide o destino da relação entre o sujeito e a verdade, a consciência e a história, a potência humana e seu limite, o desejo e a finitude, a ação e a inércia, a ousadia arriscada e a indiferença estéril. Momento precioso e fugaz em que o mundo se abre ao caminhante e lhe oferece a oportunidade de colher o segredo de seu mistério.
Leia Mais...»A condenação perpétua de Silvio Almeida
Em nome do respeito que o ex-ministro merece, em nome do respeito que merecem mulheres vítimas, eu me pergunto se não está na hora de virar a chave da judicialização, da policialização e da penalização
Vocês acham que não tem nada a ver com racismo, a velocidade fulminante com que se acusou, julgou e condenou à abominação perpétua e irrevogável um homem, um homem negro brilhante, devotado à luta antirracista, que por sua capacidade e trajetória se destacava como postulante a posições de liderança em âmbito nacional e internacional? Vocês acham mesmo que a sem-cerimônia com que se lhe marcou o lombo com a figura em brasa do banimento nada tem a ver com a cor desse homem, com sua ancestralidade, com a negritude retinta de sua pele? Silvio Almeida, em menos de 24 horas, foi banido da pátria dos cidadãos decentes e honrados, aqueles a quem se concede voz e dignidade. Faria sentido que ele viesse a ser para sempre um apátrida, vagando entre o desprezo arrogante da direita e a repulsa inflamada da esquerda? Um homem invisível?, não, pior.
Leia Mais...»Convite
Em 2011, aos 47 anos, Patricia Acioli pagou com a própria vida a ousadia de honrar sua função, enfrentando a violência policial e o poder tirânico das milícias. Manter vivo seu legado ilumina a urgência de construirmos diálogos sem fronteiras sobre caminhos para mudanças.
A Cátedra é um espaço de pesquisa interdisciplinar sobre ética, justiça e segurança pública. Coordenada por Luiz Eduardo Soares, em parceria com Eliana Sousa Silva, Miriam Krenzinger e Leonardo Melo, se insere no CBAE/UFRJ, dirigido por Ana Celia Castro.
Contamos com sua presença.
Enquanto anoitece (por Marcos Rolim)
“Raimundo Nonato” é um convite à reinvenção de um país que se perdeu na brutalidade e na ausência de caráter.
Marcos Rolim (*)
Luiz Eduardo Soares, intelectual respeitado internacionalmente, tornou se uma referência no Brasil em qualquer debate sobre segurança pública por conta da profundidade de suas reflexões e pela sua capacidade como gestor. Ideias como o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), a reforma do modelo de polícia ou o projeto da “Delegacia Legal”, para citar apenas três temas relevantes, devem muito a sua ousadia e capacidade crítica. Quem acompanha a trajetória do antropólogo fluminense sabe também da delicadeza de seu texto que já rendeu obras maravilhosas como “Elite da Tropa”, “Espírito Santo”, “Rio de Janeiro: histórias de vida e morte” e “Tudo ou Nada”, entre tantos outros. Faz muito que leio tudo o que Luiz Eduardo escreve com o prazer de ser sempre surpreendido e de aprender a cada espanto. Eis que surge “Enquanto Anoitece” (Todavia, 155 p.), seu mais recente romance, lançado ao final de 2023 e que acabo de ler.
Sinais de inundação: Safatle e os refugiados da linguagem
Para revisita Cult 28/05/24
Nada mais frívolo do que evocar minha emoção, quando se trata de introduzir a futuros leitores/leitoras (ou releitoras) uma obra extraordinária, que faz o pensamento triunfar sobre tantos desabamentos de que presta testemunho – desde logo a ruína da linguagem em que se arma a trama do capitalismo. Capitalismo que se reifica e naturaliza, inscrevendo-se nos sujeitos como medida de realidade, virtude e beleza, confundindo-se – transparente – com a razão, esgotando o campo do possível, abolindo o desejo e a insubmissão revolucionária. Que seja frívolo e impertinente, e desproporcional, considerando-se a magnitude do gesto que deu à luz este alfabeto de colisões, ainda assim ouso convocar aqui essa emoção íntima, fútil, doméstica, tão pequena e débil: a emoção que tantas vezes me impediu de seguir lendo o livro de Vladimir, por um encantamento de que, em meu caso, só a arte fora capaz – um encantamento que é desmesura e perturbação, perturbação que rima com autorização para ousar.
Leia Mais...»O POETA MATUTINO PALITA MOLARES E CANINOS EM COPACABANA
Para Revista Z Cultural
A marca de nosso tempo, seu umbral – a grave fronteira que cumpre atravessar, arrastando trapos, ruínas, culpas e esperanças –, o signo por excelência – a celebrar, inverter e esconjurar –, a referência paradigmática de nossos dilemas, pessoais e coletivos, o centro, o novo e arcaico centro gravitacional para as cosmologias em trânsito, o eixo que ordena o regime de afetos e afia o gume das horas, a marca, portanto, de nosso tempo é Fausto.
Leia Mais...»Madona e o Dilúvio
(5/05/24)
Luiz Eduardo Soares
Soube que o show da Madona foi um verdadeiro exorcismo da caretice, do reacionarismo, do fundamentalismo que infestou o Brasil e ensaiou um golpe de Estado. Leiam o lindo post de Ivana Bentes. Mas, infelizmente, nem deu tempo de curtir e celebrar, porque o Rio Grande do Sul está sendo devastado pela maior tragédia ambiental de sua história, que é também desastre social, porque o peso maior dessas crises recai desigualmente sobre os mais pobres, embora afete todo mundo.
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