Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024)
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
Nota de homenagem ao sociólogo carioca recém-falecido
Amigos e amigas, perdemos, ontem, 21 de fevereiro, um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 86 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento. Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 1970, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Karl Marx e Antonio Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.
Leia Mais...»As palavras apodrecem
20/02/2024
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
As palavras estão vazias, evocam mas não substituem os corpos empilhados em Gaza, apodrecendo em Gaza
O mais dilacerante sofrimento humano não é nomeável, descritível, muito menos mensurável. Transborda os limites da linguagem e de qualquer medida. Sua natureza é a incomensurabilidade. Por isso, quando provocado, este sofrimento, por ações alheias evitáveis, não pode ser justificado, não cabe em nenhuma sequência moralmente motivada de atos.
Leia Mais...»A democracia brasileira não vai à praia no Rio
Revista Forum, 26/12/23
“Não há inocentes na periferia, nas favelas não há, assim como em Gaza. Cancelem as linhas de ônibus, murem os morros, invadam as favelas, exterminem os malditos. Pau nos moleques, essa é a língua que eles entendem”.
Dedicado a Manuel Domingos, Pedro Celestino e André Castro
Castro está perdido e Lula evita se envolver mais com crise no Rio, diz Luiz Eduardo Soares
25/10/23
Entrevista para Coluna de Bernardo Mello Franco, O Globo
O governo do Rio está perdido, e o governo federal evita assumir mais responsabilidade pela crise na segurança do Rio. A análise é de Luiz Eduardo Soares, que comandou a Secretaria Nacional de Segurança Pública na primeira gestão do presidente Lula.
O antropólogo vê com ceticismo as ações anunciadas pelo Ministério da Justiça e afirma que não haverá solução para a crise sem uma reforma profunda nas polícias.
Como vê a crise de segurança no Rio?
O governo do Rio está perdido. O nível de degradação das forças policiais é muito grande. Há um ano, assistimos à prisão de Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil, acusado de envolvimento com o jogo do bicho. Passou batido, ninguém fala mais nisso. Agora deputados ligados a milicianos indicaram o novo secretário. Não há nenhum esboço de reforma e saneamento das polícias. Esta é a questão chave da segurança pública no Rio. Enquanto não for enfrentada, não haverá solução.
Segurança e política: parceria ou cumplicidade?
Para o Site Outras Palavras
Ao enviar a Força Nacional ao Rio, Ministério da Justiça dá um passo em falso. Medida compõe um inventário de soluções imediatistas — e falsas — para a insegurança. E parceria permitirá a governador dividir o ônus do banho de sangue que promove
Como a violência tem sido dramática e constante, é compreensível que as primeiras perguntas dirigidas a quem estuda, pesquisa ou trabalha com segurança pública exijam respostas práticas. Por exemplo: quais deveriam ser as medidas imediatas para de fato diminuir o “poder paralelo do crime” no Rio? O que fazer, concretamente, objetivamente? Os advérbios variam, ecoando a expressão “de fato”, que enfatiza a cobrança para que a resposta solicitada na indagação anterior seja realista e aplicável. Pois é aí que começam os problemas. A busca por medidas imediatas tem sido parte de nossa tragédia, no Rio de Janeiro. De um lado, há as forças da inércia, interesses corporativistas e articulações corruptas, que se aliam ao medo da população, bloqueando mudanças. Por essa razão, o discurso hegemônico é: mudar significa render-se aos bandidos; é preciso fazer mais do mesmo com mais intensidade. O que falta é intensidade, força, violência, mais execuções extrajudiciais e mais encarceramento em massa. Do outro lado, há os que desejam mudanças, mas clamam por “medidas imediatas”. E assim vivemos sob o regime do pêndulo: ou se aplaude a barbárie policial e penitenciária, que vem provocando a insegurança generalizada e o genocídio de jovens negros dos territórios vulneráveis, ou se exige solução imediata, que, por ser absolutamente impossível, ante um quadro tão complexo, acaba se tornando apenas uma autorização para pseudo-soluções militarizadas (GLOs, ocupações, intervenções das Forças Armadas, etc).
‘É uma frustração’, diz Luiz Eduardo Soares sobre ação do governo na segurança
Entrevista para o site ICL Notícias
Chico Alves
Cada proposta do antropólogo Luiz Eduardo Soares para a área de segurança pública está respaldada em uma trajetória que une de forma incomum a teoria acadêmica à prática. Com décadas de estudos sobre o tema, ele teve também passagens pelos espinhosos cargos de subsecretário de Segurança do Rio, entre 1999 e 2000, e secretário nacional de Segurança, em 2003, no primeiro governo Lula.
É esse currículo e também sua atuação progressista que o fazem ser ouvido com atenção pela esquerda.
Apoiador de primeira hora da candidatura de Lula na eleição contra Jair Bolsonaro, a quem desde cedo se opôs pelas posições reacionárias do ex-presidente, Luiz Eduardo diz que a vitória do petista foi muito importante para a democracia brasileira. Na área de segurança pública, no entanto, o desempenho do governo atual está muito aquém do desejado, avalia.
Nada que o tenha surpreendido, diante da arquitetura de um governo de frente ampla. Mesmo assim, confessa sua frustração.
A seguir, os principais pontos da entrevista:
Conselhos Tutelares: o que dizem as urnas
Um olhar sobre as eleições de 1º/10. O papel das candidaturas democráticas. A importância da articulação nacional e os erros táticos. A força das igrejas. E a falta de atuação permanente em órgãos vitais no território e na disputa de valores
Qualquer avaliação definitiva seria prematura, ainda faltam informações cruciais, mas já é possível esboçar algumas considerações sobre a eleição para os Conselhos Tutelares, que se realizou em todo o país no dia 1 de outubro. Os primeiros dados indicam a supremacia de candidaturas comprometidas com pautas conservadoras -para dizer o mínimo-, possivelmente por ampla maioria. Entretanto, notícias provenientes de diversas regiões apontam crescimento da participação e aumento do volume de votos dirigidos a representantes do que poderíamos denominar campo democrático progressista. Em síntese: avanço houve, embora insuficiente para garantir atendimento efetivo a crianças e adolescentes, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo ECA.
Leia Mais...»Depois do filme: o homem e a ponte
Publicado 21/08/2023

Aderbal Freire-Filho em cena de “Depois do filme”, monólogo que ele apresentou no FIT-BH em 2012 (Nil Canine/Divulgação)
Um roteiro é lido no palco e (quase) tudo, até as posições da câmera, deve ser construído pelo espectador, que vê alguém prestes a deixar a vida. Com este espetáculo limite, Luiz Eduardo Soares conclui sua homenagem a Aderbal Freire-Filho
É a terceira vez que escrevo sobre espetáculos de Aderbal Freire Filho. Escrevi sobre O Púcaro Búlgaro, Moby Dick e, agora, compartilho com os leitores algumas impressões sobre Depois do Filme. Como, em matéria de produção acadêmica, teatro, cinema e literatura, só escrevo sobre o que admiro, me dá prazer e me encanta, a sequência constitui, em si mesma, modesta homenagem pessoal: expressa o reconhecimento da qualidade e a reverência pela obra de Aderbal. Por falar em admiração e apreço, cito meu saudoso mestre e amigo, Richard Rorty, que dizia mais ou menos assim: “Não gostou? Faça diferente.”
Leia Mais...»Aderbal e a baleia
Na segunda resenha em homenagem ao diretor, morto no dia 9, Luiz Eduardo Soares analisa sua linha de fuga ao impasse político entre o pacto fáustico e o idealismo inócuo. A anti-terceira-via é Moby Dick: a infinita caça ao monstro, a morte como norte
O sopro do abismo e o assobio do teatro
Publicado 10/08/2023
Em homenagem à memória do querido e saudoso Aderbal Freire-Filho, que nos deixou em 9 de agosto, volto a publicar a resenha que escrevi, em novembro de 2006, sobre um de seus mais lindos espetáculos. Meu sentimento é de gratidão por tudo que nos deu.
Você já foi à Bulgária?
Aderbal Freire-Filho dirigiu um espetáculo primoroso e inesquecível, com atores notáveis e excelentes soluções na cenografia, nos figurinos, na sonoplastia e na iluminação: O Púcaro Búlgaro, que ainda pode ser visto no Teatro Poeira, em Botafogo, no Rio de Janeiro – pelo menos por mais algumas pouquíssimas semanas. A montagem põe em cena o romance homônimo de Campos de Carvalho, literalmente, digo, teatralmente, digo… Bem, é melhor explicar. Será possível? Acho que não. Melhor você conferir pessoalmente. Enquanto isso, algumas palavras à guisa de convite.
Leia Mais...»