O luto, Carlitos, e a luta que segue
Facebook, segundo post, dia 4 de maio, 2020
LES
Em 1979, fui algumas vezes ao Galeão receber grandes líderes das lutas históricas do povo brasileiro que voltavam do exílio. Gregório Bezerra, Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes, Betinho. Nós cantávamos “O Bêbado e a equilibrista”, nosso hino de amor, a canção da Anistia. Eu era jovem, a militância ainda era clandestina, a democracia parecia quase ao alcance da mão, e aquele mar de gente me comovia tanto que parecia que era o Brasil todo que batia dentro do peito. Caía a tarde feito um viaduto. Eram tantos os nossos mortos, assassinados pela ditadura, eram tantos ainda os riscos, o medo rosnava. Cada um de nós arrastava a memória de sangue e horror, mas com nossos heróis chegava o futuro. Era a volta do futuro. E um bêbado trajando luto nos lembrava Carlitos. Hoje, de novo, choram Marias e Clarices, e nós mergulhamos de novo no inferno. A democracia que construímos traiu os sonhos, era um brilho de aluguel. Pelo menos temos as bandeiras, guardamos as bandeiras intactas. E temos ainda o maior dos trunfos, cravado na história de cada um e de cada uma de nós, o hino da esperança que hoje canta por nós, em nossos olhos, sem que seja preciso dizer nada. Obrigado Aldir Blanc.