Sobre o impeachment
(post no facebook em 5 de dezembro de 2015)
Canalhas e gangsters não têm ideologia, ainda que ergam bandeiras. O PT,
apesar de tão degradado, não tem o monopólio da vilania. O PSDB criou o
mensalão e posa de guardião da ética. Cunha não merece nem adjetivos. 2013
evidenciou o colapso da representação. 2014 revelou, na campanha, que a
sordidez do PT não tem limites. A Lava-Jato provou que o crime
institucionalizou-se. Os partidos sectários esquerdistas, como o PSOL, são
personagens patéticos e melancólicos, que acabaram aderindo ao PT, e vão
abraçá-lo agora de novo, porque consideram a crítica ética um desprezível
moralismo pequeno burguês e toleram a corrupção, desde que seja “de
esquerda”, porque acham que o problema é uma entidade metafísica chamada “o
sistema”. Por tudo isso, no Brasil, a tarefa número um é recusar a corrupção,
venha de onde vier. É recusar o crime organizado de colarinho branco e adesivo
partidário, ao mesmo tempo em que se impõe a repulsa mais veemente ao
genocídio de jovens negros e pobres nas periferias. São duas faces da mesma
moeda. A barbárie também veste Prada. E o impeachment? Não me venham dizer que impeachment é golpe. Basta de cinismo: o PT pediu o impeachment de FHC.
Não era golpe? Agora é? Então deixem de hipocrisia. Ninguém é idiota. Posem de
vítima à vontade, não terão minha solidariedade: ao PT devemos a destruição do
patrimônio que as esquerdas democráticas construíram ao longo de décadas
com o sacrifício de tantas vidas na luta contra a ditadura. O PT merece a crítica
mais indignada. Foi o primeiro governo Dilma, esticando a corda das políticas
anticíclicas do segundo governo Lula, que provocou o desastre econômico.
Foram Dilma e o PT que levaram para o ralo a credibilidade e a confiança, sem as
quais não há economia, nem democracia. Dilma subestimou a questão climática,
ridicularizou os desafios ambientais, negligenciou a sustentabilidade. Ante a
crise que causou, joga nas costas dos grupos sociais mais vulneráveis os custos
do ajuste. No front dos direitos humanos, desdenha de toda uma história
construída por tantos militantes em todo o país, inclusive petistas honrados
(porque há homens e mulheres honrados em muitos partidos, inclusive no PT), e
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aposta na militarização mais grosseira e regressiva. Se dependesse de meus
sentimentos, o impeachment viria com um brado retumbante. Entretanto,
aprendi na resistência clandestina à ditadura e ao longo de décadas de militância,
que não se fazem justiça social e democracia rasgando a Constituição.
Impeachment é um recurso legal, mas exige denúncia consistente. O governo
Dilma provocou recessão, depressão, desemprego, recuo em todas as esferas,
mas o impeachment não é um expediente para ejetar maus governantes. Para ser
aplicado requer acusação específica qualificada e comprovável. Pode ser que
surja, mas ainda não foi formulada. Por isso, sou contra Dilma e contra o
impeachment, enquanto não houver razão legalmente defensável. Em primeiro
lugar, o respeito à Constituição. Só assim avançaremos. Mas advirto: não
esperem que eu atenda ao canto de sereia. O PT vai tentar aproveitar-se da
conjuntura para convocar uma frente de esquerda sob cuja máscara vai omitir o
fato de que institucionalizou a corrupção em escala épica, assim como vai ocultar
os erros que destruíram expectativas positivas e empurraram o país para o
desastre. Dilma e o PT têm encontro marcado com o tribunal da história. Não
estarei a seu lado nas ruas, assim como não estarei ao lado dos reacionários e
oportunistas que buscarão aproveitar-se da decomposição do PT e de seu
governo para colocar em marcha seus projetos indecorosos e perversos. Quero
ajudar a construir um país diferente. Em síntese, assim como meu partido, a
Rede Sustentabilidade, sou contra Dilma e, enquanto não houver acusação
consistente, contra o impeachment.