Zero zero zero: visão penetrante, conclusiva, e que não autoriza ilusões
Leia a seguir a versão completa da resenha de Luiz Eduardo Soares de Zero zero zero, livro de Roberto Saviano.
Cada um de nós tem suas admirações particulares. Roberto Saviano é um dos meus heróis desde que li Gomorra e soube de sua saga pessoal. Agora, em Zero zero zero, seu livro mais recente, ele foi ainda mais longe. Saviano atua em um gênero que pinça o nervo de nosso tempo: convencionou-se denominá-lo jornalismo literário. Para os céticos, esse título significa nem literatura, nem jornalismo. Uma espécie de dupla traição: à autonomia estética do discurso literário e à objetividade neutra do jornalismo, supostamente desapaixonado, livre da força poética das palavras e refratário à imaginação. Prefiro virar esses argumentos pelo avesso: sem o encantamento da linguagem, que requer ourivesaria estética, os relatos, por mais comprometidos que fossem com a descrição fiel da experiência, perderiam a voz, consumidos numa aridez opaca. Sem o toque da imaginação, o que seria das narrativas? Sem fantasia, o que seria do realismo? Sem a arquitetura formal que dá à literatura a dignidade da arte, o que seria da verossimilhança documental? Sem afeto, sedução, empatia e compaixão, como celebrar o pacto da objetividade com o leitor? E sem o cascalho do cotidiano, e seus odores, o que seria da ficção? Além disso, Saviano é um desses exemplos raros e comoventes de bravura cívica que o cinismo militante da opinião pública costuma recusar-se a reconhecer, depois de uma salva de palmas protocolar n’alguma premiação para apaziguar nossa consciência. Afinal, reconhecer suas opções, sua trajetória e os riscos que alguém assim aceita correr em nome do que um dia chamamos “bem comum” nos envolveria a todos, nos mobilizaria, nos obrigaria moralmente a dar-lhe as mãos, chamá-lo irmão, abrir-lhe nossas casas, engajando-nos na mesma cruzada cidadã. Melhor tocar a vida. Já são muitos os nossos problemas privados. Vamos então à obra.
Zero zero zero é um grande livro cuja leitura será indispensável para quem tiver coragem de olhar nos olhos a barbárie contemporânea e de repensar o que supomos saber sobre nosso tempo — e talvez sobre nós mesmos. Parece exagero? Explico meu entusiasmo. Os grandes livros, em minha opinião, são os que nos transformam, incidindo sobre a visão de mundo e os sentimentos dos leitores. Iria mais longe: são aqueles que também transformaram seus autores.
Impacto dessa magnitude existe quando se lê Gomorra, a obra sobre máfias italianas que tornou seu autor mundialmente conhecido e respeitado — menos pelos criminosos, que reagiram fazendo de sua vida um inferno, obrigando-o a exilar-se e a cercar-se de escolta, dia e noite. Esse mesmo efeito transformador, em voltagem ainda mais intensa, é provocado por seu livro mais recente, que a Companhia das Letras acaba de lançar no Brasil, em excelente tradução de Frederico Carotti, Joana Angélica d’Avila Melo, Marcello Lino e Maurício Santana Dias. Entre os dois, Roberto Saviano explorou o universo literário, dialogando de outra forma com seus fantasmas. Em Zero zero zero, apelido da cocaína pura, Saviano deixa a ficção de lado, mergulha no osso do real, e retoma o fio da meada maldita, seguindo o rastro de sangue e pólvora mundo afora, identificando os vestígios da crueldade mais assombrosa e desnudando o processo econômico e político que fez da cocaína o segundo negócio mais lucrativo do planeta, abaixo apenas do petróleo.
“Ah! Eu sei, eu sei, mais um livro sobre drogas e violência, dinheiro sujo, corrupção, essas coisas…”, talvez você resmungue, atribuindo à obra de Saviano a redundância que há tempos o afastaram das tediosas páginas policiais dos jornais, que lhe servem a ração diária de miséria humana. Mas antes que você desista desta resenha e do livro, pergunto-lhe o seguinte: você estaria disposto a suspender sua crença de que as práticas comerciais ilegais de substâncias ilícitas constituem apenas o lado B da economia global, uma espécie de margem ou sombra da qual não há como livrar-se inteiramente, mas que não participa das decisões que definem nosso destino coletivo? E se eu lhe disser que não é assim que as coisas funcionam, que o lado B já se fundiu ao lado A, e que o poder que a margem mobiliza anula essa topografia antiquada e ingênua? E se eu lhe afirmar que suas noções de Estado, soberania, justiça, legitimidade democrática, monopólio do uso da força, instituições da ordem e valores republicanos talvez precisem de um banho de realidade, um mergulho no ácido da evidência que as deformará?
Pronto, agora que conquistei sua atenção e suspendi sua expectativa a respeito do que provavelmente seria um livro sobre cocaína e suas tramas transnacionais, compartilho com você alguns dados que abalam qualquer pessoa sensata e inteligente. Em 2009, como sabemos, o mundo entrou em colapso. As dívidas eram negociadas em fluxo contínuo e a moeda eram outras dívidas, numa cadeia infinita, cuja confiabilidade residia no suposto poder inabalável das instituições financeiras. Pois a hora da verdade chegou: não havia terra firme sob as vaporosas expectativas de pagamento. A bolha revelou-se o que era, e desmanchou no ar. Ou o governo americano (e logo os demais) emitia moeda e traía o dogma do livre mercado, ou outras torres tombariam: os bancos quebrariam, drenando para o ralo a economia global. O buraco inicial representava algo em torno de U$ 1 trilhão. Naquele momento, só um setor da economia continuava a girar sem problema de liquidez: o tráfico de cocaína, que lavou de imediato 352 bilhões de dólares, injetando-os nas instituições financeiras desidratadas. Cerca de um terço da liquidez mundial era dinheiro sujo de sangue. A crise demonstrou a pujança da cocaína e a vulnerabilidade do capitalismo financeiro desregulado.
São produzidas, anualmente, entre 788 e 1060 toneladas de cocaína, segundo dados do World Drug Report, de 2012. A maior fonte de exportação continua sendo a Colômbia, responsável por cerca de 60% da coca que circula no mundo, a despeito do desmantelamento dos cartéis de Medellin e Cali, e também das FARC, que se tornaram agentes do narcotráfico. A política de erradicação das plantações aplicada por sucessivos governos colombianos, em aliança com os EUA, solapou as bases tradicionais da economia camponesa e devastou o meio-ambiente, o que promoveu a dispersão de comunidades rurais e o fracionamento da produção, tornando os pequenos produtores mais vulneráveis aos barões da droga, os quais intensificaram a exploração, investiram nas intermediações e elevaram a margem de lucro. O resultado tem sido o êxito de centenas de micro-cartéis e o fortalecimento de um deles, o Norte del Vale. A crise colombiana não eliminou a produção, mas deslocou as disputas por mediações comerciais para o México, onde mais de 70 mil pessoas já foram assassinadas na guerra interna ao narcotráfico. Aproximadamente 20 milhões de cidadãos cruzam todo ano os três mil quilômetros de fronteiras que separam o país dos Estados Unidos, principal consumidor. Impossível conter os fluxos que se adaptam a todas as circunstâncias e driblam as tentativas de controle. A situação do México é particularmente dramática, porque a proliferação de grupos criminosos ampliou e agravou a disputa por domínio territorial, que corresponde ao poder sobre canais de exportação para o formidável mercado norte-americano. A partir de determinado ponto, o dinheiro não é mais contado, mas pesado, e se desloca com tanta rapidez e facilidade que as narcomáfias mexicanas não têm tido dificuldade em recrutar mercenários e cooptar militares, policiais e políticos, ou em armar-se com tecnologia sofisticada e equipamentos de última geração. Essa, aliás, é a marca que se generaliza no universo da cocaína: grana e armas, poder para corromper, chantagear e matar. Em meados dos anos 1980, Pablo Escobar, líder do cartel de Medellin, lucrava meio milhão de dólares por dia. O capo foi morto, seu cartel liquidado, mas os negócios só prosperaram, em escala global, envolvendo empreendedores das mais distintas nacionalidades e organizações criminosas de todos os continentes.
Entre 2005 e 2007, a Marinha colombiana apreendeu 18 submarinos, identificou 30 e estimou que outros 100 estivessem em operação, transportando a droga pela costa do Pacífico até a Califórnia. O narcotráfico transnacional já acumulou capacidade técnica, acesso a componentes e capital suficientes para produzir seus próprios submarinos, muitos dos quais em fibra de vidro. Seu arsenal inclui helicópteros M18, do exército soviético, aeronaves mais novas, aviões de todas as dimensões, inclusive Boeings, e embarcações dos mais variados tipos.
Falamos em armas e guerras com a superficialidade dos que não as vivenciam, diretamente, ainda que no Rio de Janeiro esta seja uma experiência diária para muita gente. A narrativa forte de Saviano não admite a indiferença e o tom blasé. O autor nos leva pela mão aos mais variados cenários da tortura perpetrada por narcotraficantes em todo o mundo ao longo do livro. Faz questão de nos conduzir aos escombros da modernidade, o outro lado da moeda, a face perversa da economia civilizadora: a crueldade extrema. O leitor talvez tente virar os olhos, como eu fiz tantas vezes, mas há ali, em cada capítulo, uma espécie de imperativo ético que nos impele a não abandonar a vítima, a acompanhar o relato com os olhos bem abertos. As cenas se prolongam além da leitura, eu lhe asseguro. A crueldade não é regida pelo cálculo utilitário ou pelas paixões ordinárias. Há algo mais, ou menos, um excesso, ou uma falta. Não se trata de atavismo animal ou apego à natureza selvagem. Os animais matam para sobreviver. O universo selvagem busca a vida, e por isso elimina o concorrente que ameaça. Não se compraz com a dor alheia. A crueldade é código exclusivamente humano. Saviano, nesse ponto, nos dá uma lição preciosa: não procurem na natureza humana essa brutalidade assombrosa. Ela se ensina e se aprende. Por isso, o crime organizado em todo o mundo, das máfias ao terrorismo, quando adota a violência como linguagem, inventa assinaturas em seus assassinatos, disputa com grupos rivais a intensidade dos tormentos a que submete suas vítimas e se mede pela habilidade em transformar seu poder em dor, medo e humilhação. Na verdade, os grupos imitam-se uns aos outros para diferenciar-se e quanto mais se esforçam por distinguir-se e afirmar suas marcas singulares, mais se constituem em espelhos de seus inimigos. Esta é a lógica mimética e paradoxal que rege a cultura da violência. A intensificação da brutalidade é o reconhecimento prático da própria impotência: gira-se em falso e a energia deposita-se no mesmo, por isso só resta elevar a voltagem até o limite da própria força, atestando sua subordinação à órbita do outro — do qual procurava afastar-se e distinguir-se para o suplantar.
E o Brasil com isso? Nosso país é o segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Passam por aqui, anualmente, entre 80 e 110 toneladas de pó. Metade cheira-se aqui mesmo — estima-se em 2,8 milhões o número de consumidores brasileiros. O resto segue para a Europa e outros destinos. O aumento do consumo de cocaína verificado na sociedade brasileira tem as mesmas causas do crescimento das vendas de automóveis, cosméticos, pacotes turísticos, cerveja, carne, smartphones e viagra: a elevação da renda média. O mercado europeu também tem crescido bastante, ainda que por lá, de um modo geral, a situação econômica não favoreça a elevação do consumo. Este é o paradoxal milagre dessa mercadoria única: ela dá lucro quando tudo vai bem, porque, afinal, tudo vai bem, e há mais dinheiro para saciar os desejos individuais. E ela vai bem quando tudo vai mal, porque ninguém é de ferro e é preciso turbinar o ânimo para compensar o baixo-astral ambiente e enfrentar mais horas de trabalho ou mais tempo ocioso — e angustiante, deprimente. Observe que não se paga um papelote de cocaína a prazo, com cheque ou cartão de crédito. Essa economia gira velozmente porque seu combustível é a liquidez imediata e sempre disponível. Se a demanda aumenta, nenhum problema: a oferta é elástica. Um quilo pode facilmente converter-se em dois ou três ou quatro. A mágica está na mistura. Cheira-se pouquíssima cocaína no pó que se inala em Londres, Nova York, Paris, Moscou, Roma, Rio ou São Paulo. Salvo nos salões abastados, que recebem o petróleo branco em condições especiais, e pagam por isso. A pureza média da cocaína na Europa varia entre 25% e 43%. Em minha pesquisa pessoal, da qual resultou o livro, Tudo ou nada: a história do brasileiro preso em Londres por associação ao tráfico de duas toneladas de cocaína (Nova Fronteira, 2012), constatei que a coca sai da Amazônia colombiana com 85% de pureza (não pode ser 100% porque é necessária a adição de produtos químicos para proteger a coca da umidade e dos efeitos de algumas condições extremas) e é vendida no varejo, na Inglaterra, com apenas 15% de pureza. Ou seja, o ganho é de 600%, considerando-se o preço da mercadoria no atacado, adquirida na matriz. Claro que há os custos do transporte, da corrupção de agentes, a taxa média de perda etc. Ainda assim, a margem de lucro é considerável. Registra-se que a saúde dos consumidores abusivos é afetada muito mais pelos componentes misturados à coca do que pela própria substância que dá nome à mercadoria
Em todo lugar, o consumo de cocaína democratizou-se. Enquanto as Américas ficam com 450 toneladas a cada ano, a Europa consome 300 toneladas, anualmente. Treze milhões de europeus já usaram a droga, 7,5 milhões entre 15 e 34 anos. No Reino Unido, o número de usuários quadruplicou na última década. Na França, dobrou, entre 2002 e 2006. Estima-se que entre 20% e 30% da produção de cocaína pura destinam-se ao mercado europeu.
As multinacionais da cocaína ramificaram-se por todas as regiões, aproveitando cada oportunidade para explorar a demanda potencial e imiscuir-se nas redes políticas, sociais e econômicas institucionalizadas. A promiscuidade com o mundo legal é seu método de autoproteção, torna-se tática de reprodução e fortalecimento, até converter-se em sua própria natureza, porque, a partir de determinado ponto, não é mais possível distinguir os elos legais dos ilegais, as dinâmicas lícitas das criminosas. Os narcoempresários cercam-se de PhDs, gestores tarimbados que trabalham com metas e esquemas meritocráticos, operadores financeiros de primeira qualidade, sócios bem situados na arena transnacional, conselheiros econômicos e políticos refinados, com trânsito irrestrito no universo empresarial, jurídico-político e na grande mídia. O capital errante lava-se na aquisição de hotéis, restaurantes, redes de supermercados e shopping centers, revendedoras de automóveis, instituições financeiras e indústrias, ou associando-se a empreiteiras e mega-empreendimentos, inclusive nas áreas de energia, em especial petróleo e gás. No passado, o pó corria atrás do dinheiro, dos circuitos do capital para parasitá-lo e fertilizar a fortuna dos cartéis, ainda insulados e territorialmente circunscritos, falando sobretudo espanhol. Hoje, são os mercados que buscam atrair a fortuna dos cartéis e acercar-se dos narconegócios, falando todas as línguas da babel capitalista. Agora, é o dinheiro que gravita em torno do pó. Décadas atrás, o narcotráfico precisava de paraísos fiscais para lavar seus lucros milionários. Hoje, Nova York e Londres, Wall Street e a City são as grandes lavanderias globais, e os lucros são bilionários. O sistema bancário na matriz do capitalismo já deu mostras de que não tem grande interesse em investigar a origem de depósitos, transferências, trocas de papéis e títulos, dívidas e créditos em fluxos financeiros das mais diversas modalidades. Mesmo quando essa identificação, digamos, arqueológica é viável, hipótese cada vez menos provável. A análise de Saviano é penetrante e conclusiva. Não autoriza ilusões.
O exemplo russo talvez seja o mais eloquente e dramático. Enquanto a União Soviética agonizava, máfias preparavam-se para o dia seguinte. Grupos criminosos durante muito tempo abasteceram a dispensa dos membros da Nomenklatura com o contrabando de todo tipo de produto e saciaram o apetite generalizado na população por mercadorias ocidentais inacessíveis. Essa prática duradoura lhes permitiu acumular contatos estratégicos na alta hierarquia do partido comunista e informações confidenciais comprometedoras sobre funcionários poderosos. Contatos e informações, naqueles tempos sombrios, valiam mais que rublos decadentes. Quando o muro finalmente ruiu e a União Soviética desmembrou-se, os empreendedores mafiosos estavam prontos para agir. A riqueza estatal foi rapidamente apropriada por lobos vorazes que monopolizavam o conhecimento relativo a processos decisórios, modos de operação, quais atores estariam dispostos a assumir iniciativa e que regras do jogo seriam aplicadas. Assim, agentes empreendedores da Nomenklatura em aliança com máfias locais herdaram parte expressiva do patrimônio estatal soviético e legaram à etapa capitalista que se instalava um padrão violento e despudoradamente refratário aos princípios supostamente equitativos do mercado. O negócio da cocaína, que já era próspero no período anterior, mostrou-se extraordinariamente promissor. Não por acaso articulou-se com empreendimentos bilionários nas áreas de petróleo e gás. Tal promiscuidade chegou a constituir-se no eixo de conflitos entre Rússia, Ucrânia e Europa, relativos à distribuição de gás, cuja importância é vital para os países europeus. Tampouco é arbitrário o fato de que um agente chave nessa rede estratégica, o mega mafioso Mogilevich, antes de ser desmascarado tenha assumido o controle de um banco russo de prestígio internacional, o Inkombank, entre 1994 e 1998. Sua rede de contas envolvia o Bank of New York, o Bank of China, o suiço UBS e o Deutsche Bank. Outras histórias estão em curso, furando bloqueios e contando com parcerias insuspeitadas. Reitero o ponto: dadas a magnitude, a escala e a complexidade dos fluxos financeiros provenientes do narcotráfico, tornou-se impossível separar o joio do trigo, mesmo quando há interesse em fazê-lo por parte de agentes financeiros, policiais, jurídicos e políticos. A dinâmica do capitalismo financeiro globalizado e a agilidade dos narconegócios, turbinados pela instantânea liquidez de suas operações, gestaram um novelo inextricável. Quanto mais desenvolver-se a economia, mais se potencializará o narcotráfico, seja na ponta do consumo, seja por sua articulação orgânica com a economia legal. Na escala multibilionária dos mercados globais, a diferença legal-ilegal foi condenada à obsolescência, o que nos deixa diante de um dilema do tamanho do planeta: ou legalizamos as drogas e purgamos o veneno letal que infecciona e intoxica governos, instituições e sociedades, ou vamos continuar pavimentando o caminho para a destruição de governos, instituições e sociedades, crescentemente destroçados pela corrupção e a violência.
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Luiz Eduardo Soares é antropólogo e escritor.