Meu casaco de general, com Luiz Eduardo Soares
Marcos Carvalho Lopes e Ana Sônia Gomes dos Santos conversamos com o filósofo, antropólogo, cientista polítio e professor Luiz Eduardo Soares poara uma conversa que teve como mote o seu livro Meu casaco de General: Quinhentos dias no Front da segurança pública no Rio de Janeiro, lançado no ano 2000, finalista do prêmio jabuti, texto fundamental para pensar a segurança pública no Brasil. No esforço de recontextualização dessa obra o professor Luiz Eduardo Soares nos proporciona toda uma narrativa sobre a trajetória política do país, em que um processo de redemocratização problemático não questionou premissas de práticas autoritárias que continuam e retornam como um sintoma impensado.
Leia Mais...»CIA, Sicília e Rio Grande do Norte
Por LUIZ EDUARDO SOARES*
Lições para bloquear o fascismo brasileiro
Impactante o artigo que Seymour Hersh publicou esta semana em seu blog no Substack, desta vez não mais sobre o ato terrorista cometido pelo governo estadunidense contra os Nord Stream Pipelines, que levavam gás russo à Alemanha, mas sobre a operação secreta deflagrada pela CIA contra a máfia na Sicília, por determinação dos irmãos Kennedy. Na ocasião, John era presidente e Bobby, attorney general.[i]
Leia Mais...»‘Calar sobre o fascismo em nosso país equivaleria a calar sobre o que não queremos enxergar em nós mesmos’
Fascismo é um tema premente em um país onde, frisa Luiz Eduardo Soares, praticamente metade dos leitores “votou em um projeto fascista”. Convidado a abrir o ano letivo da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), na próxima quarta-feira, 22 de março, o escritor, antropólogo e cientista político retoma a questão em aula inaugural sobre A demanda por ordem ontológica e o fascismo no Brasil. O evento será realizado no Salão de Conferência do CDHS, às 10h, com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube e tradução para Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Em entrevista à Casa, concedida no início desta semana, Soares, considerado um dos mais importantes especialistas em segurança pública do país, avalia que, atualmente, os problemas da área são mais graves do que os existentes no Brasil de duas décadas atrás, quando ocupava o cargo de Secretário Nacional de Segurança Pública, dando continuidade à experiência na gestão pública iniciada em 1999, como Coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro: “A corrupção policial se expandiu e se materializou em agências autônomas poderosas, as milícias. Hoje, colhemos a tempestade que eu previra na época”.
Ruídos no diálogo político
A insensibilidade para as transformações em curso reduz nossa capacidade de compreendê-las e valorizá-las como realidades cruciais que marcam nosso tempo
São inúmeras as possibilidades de abordagem analítica da sociedade brasileira contemporânea. Uma delas resulta do exercício de memória: evocando o passado, iluminam-se, por contraste, características atuais que as rotinas tendem a invisibilizar. Em nossa experiência cotidiana, muitas vezes naturalizamos as inovações, a emergência de novos fenômenos, as transgressões de expectativas consolidadas, a irrupção de diferenças, inclusive aquelas que nos desafiam em todas as dimensões: intelectual, ética, psicológica, política, estética.
Leia Mais...»O golpismo bolsonarista e a oportunidade da inflexão política
DE LUIZ EDUARDO SOARES
Uma semana depois da posse de Lula, que deu ao mundo a imagem mais bela de nossa história -o povo brasileiro subindo a rampa com o presidente, na contramão do patriarcalismo racista e da violência de Estado -, a escumalha bolsonarista reeditou a cena pelo avesso. A súcia golpista invadiu o Palácio do Planalto para promover caos e destruição, como fez no Congresso e no Supremo Tribunal Federal. Seu propósito era desestabilizar o novo governo, disseminar o medo, mobilizar a militância fascista, instalar a insegurança e provocar seus aliados nas Forças Armadas e nas Polícias para encetarem o golpe, tantas vezes prometido e adiado por Bolsonaro.
A segunda posse de Lula em seu terceiro mandato
Em primeiro de janeiro de 2023, Lula subiu a rampa do Planalto com personagens que simbolizam o povo brasileiro. A foto mais bela e comovente da história do país correu mundo, anunciando que o Brasil estava de volta: o melhor de nossa sociedade derrotara o fascismo e se apossara de seu próprio destino. A imagem nem sempre vale mil palavras, como se diz. Aquela, entretanto, prescindia de legendas.
Leia Mais...»Não consigo conceber minha vida sem futebol
Não consigo conceber minha vida sem futebol. Cresci ao redor das partidas ganhas e perdidas, repetindo na memória, insone, os lances como orações para ajustar a direção da bola, tentar de novo aqueles dribles, os meus e os dos jogadores de meu time. Jamais imaginei o futebol dissociado de Pelé, de seu nome, sua lenda, sua liturgia. Seus gols impossíveis eram a garantia de que tudo era possível, a perfeição nesse mundo. Levei essa fé pra política e corri atrás da utopia a vida toda. Já sabia que Pelé estava mal. Há semanas acompanho, como toda a gente, seu calvário. Sua morte aconteceria. Aconteceu. Mas parece que eu não sabia, não estava preparado pra essa notícia. É como se o mundo desabasse. O futebol é o fio que liga os tempos e os pedaços de minha travessia, separando anos e décadas, como a política. O fio rompeu-se, eu acho. Foi isso mesmo?
O problema mais urgente do Brasil é a ruptura entre autoridade e poder
O STF fez história quando decidiu intervir na segurança pública fluminense, no âmbito da ADPF 635/2019, condicionando a realização de operações policiais em territórios vulneráveis ao cumprimento de exigências mínimas, de resto ditadas por bom senso e respeito à legalidade constitucional. Se o fez, foi porque reconheceu tanto a gravidade das reiteradas violações perpetradas pelo Estado, por meio das polícias, quanto a inépcia dos mecanismos de controle, especialmente do MP. Representantes das polícias e do governo estadual argumentaram contra a medida, em nome da autonomia institucional, e alertaram para o risco de explosão da criminalidade. Sem as operações, o Estado quedaria prostrado, inerte, ante o fortalecimento do crime. Nada disso aconteceu. Nos poucos meses em que a ordem judicial foi cumprida, diminuíram as mortes provocadas por ações policiais (que na cidade do Rio correspondem a cerca de 30% do total de homicídios) e não houve aumento da criminalidade. Desafortunadamente, a obediência não durou, voltaram as operações desastradas e desastrosas, multiplicaram-se as chacinas inconsequentes e brutais, com invasão de domicílios, mortes (inclusive de policiais) e terror, sem que nada mudasse na rotina das dinâmicas criminosas, as quais se recompuseram, como sempre, após os ataques, reproduzindo o ciclo de violência. Nessa história que se repete, não se acumularam vitórias, só dor, medo, ódio e ressentimento. O racismo estrutural se intensifica, as desigualdades se aprofundam. No dia 25 de novembro, o saldo do banho de sangue foram oito mortos. De janeiro a outubro, houve 1.111 mortes provocadas por ações policiais no estado do Rio.
Leia Mais...»Angelus Novus do fascismo brasileiro
Entre tantas imagens perturbadoras em que naufragaram as últimas ilusões de que se aplicam à política os princípios de realidade e racionalidade, destaca-se o homem abraçado ao para-brisa do caminhão veloz, que segue seu caminho. As primeiras interpretações que circularam fazem todo sentido: o bolsonarista que participava da obstrução de estradas, em defesa de intervenção militar para impedir a posse de Lula, oferecia ao mundo o patético espetáculo de sua impotência, procurando deter o caminhão, cujo movimento ininterrupto representaria a marcha inexorável da história e do progresso. Leitura interessante e, em parte, bastante fiel ao que se vê, mas talvez excessivamente dependente de um imaginário tão irrealista quanto o delírio golpista do triste personagem. Tão irrealista quanto e, ousaria dizer, mais íntimo de seu regime de afetos e valores (como sua contrapartida) do que talvez inicialmente se supusesse.
Leia Mais...»Postei no facebook essa breve observação:
Postei no facebook essa breve observação: Olha pra câmera, rodopia no palco, lê a mão e diz “bandido”, repete mais alto “bandido”, olha de novo pra câmara e, enquanto se afasta, eleva o tom, dirigindo-se de costas pro outro: “responde aí, Lula, fala, responde”.
No último “debate” da Globo, pelo buraco da fechadura em que se converteu a tela da TV, milhões de pessoas flagraram o segredo, o núcleo essencial de nossa história, a senha derradeira que desvenda o enigma do país. O patrão bronco e branco, exibindo na voz e no corpo seu desprezo pelo outro, evoca a cena primordial da Casa Grande. Acontece que, do outro lado, o peão nordestino gasto pelo sal das pedras, rouco como devem ser roucos os gritos suspensos no ar, disse não, não. E o circuito da violência, interceptado, devolveu o açoite pro lombo de quem mandou dar.
Bolsonaro, nunca mais.







