Manual de Auto-Ajuda política
(Postado no facebook em 15 de março de 2015)
Luiz Eduardo Soares
Situações críticas como a que estamos vivendo são preciosas para repensarmos nossas próprias posições e percepções. Se tivermos coragem de avançar nesta linha, talvez aprendamos algumas lições sobre nós mesmos –pré-condição para darmos lições aos outros. Então, abro o coração: confesso que minhas reações e emoções foram muito diferentes quando identifiquei, a meu lado, pessoas com crenças muito diferentes das minhas, em junho de 2013 e agora. Hoje, topando, via TV, com pessoas que defendem o autoritarismo, senti repulsa, mas não me repugnava, em 2013, postar-me ao lado de algumas pessoas que defendiam regimes ditatoriais, como Coreia do Norte e Cuba, ou autoritários, como a Venezuela, ou de pessoas cujos partidos defendiam o legado do stalinismo, além daquelas pessoas que apoiavam explicitamente a ditadura do proletariado.
Dei-me conta –que estúpido eu sou– de que, por mais que me causem horror as ditaduras, sempre fui mais brando com as que se autodenominam de esquerda, na suposição talvez de que nelas, apesar da barbárie, haveria um quê de virtude, se não na ponta da liberdade, pelo menos na ponta da igualdade. No fundo, desse modo, inadvertidamente, eu naturalizava o horror, a brutalidade do Estado, a vilania do partido único, a indignidade do arbítrio, a violência da coerção, a soberania da força contra a ação humana.
Resultado desta constatação, em tom de auto-ajuda: preciso continuar a ser tolerante com a diferença, claro, mas tenho de banir os privilégios, em meu coração, aos autoritários que mascaram sua adesão à violência com as promessas de igualdade. Ditaduras são ditaduras, não importam os matizes. Quem as defende merece crítica franca e veemente. Nenhuma concessão a ditaduras é aceitável. A crueldade borra distinções entre esquerda e direita. A tortura desqualifica moralmente quem a pratica e quem a aceita. Não há bom ditador, bom torturador, independentemente da utopia em cujo nome exerça a barbárie. Buscar a perfeição na sociedade degenera em ortopedias selvagens.
Portanto, amig@s que hoje reduzem as manifestações multitudinárias a reivindicações golpistas. Quero ver a mesma reação quando, entre defensores do governo Dilma, manifestarem-se atores políticos que defendem ditaduras, ainda que por pudor oportunista não o explicitem em seus cartazes. Vamos universalizar nossa saudável repulsa a ditaduras e a todas as bandeiras que exaltem a violência, como fim ou meio.