O Rio, a Baixada e a eleição de Wesley Teixeira
(postado no facebook em 3 de outubro de 2020)
Luiz Eduardo Soares
As elites cariocas têm responsabilidade na ruína do Rio e na degradação da
política. Optaram sempre por apoiar lideranças subservientes a seus interesses,
mesmo sabendo de suas alianças com o milicianato. Estigmatizaram Freixo duas
vezes. A política, para as elites cariocas, sempre foi um modelo de negócios. Agora,
lamentam. A profundidade da crise devora seus criadores. Mantiveram as
esquerdas sob cerco e entregaram os anéis às máfias. Hoje, perderam até os dedos.
Além disso, as elites cariocas mantiveram sob o cerco do silêncio cúmplice a
Baixada Fluminense, como se o apodrecimento institucional respeitasse a
geografia. A Baixada foi sempre o grande Outro da cidade maravilhosa, a sombra e
o abismo para onde não se deve olhar. Que os bandoleiros se matem pela carniça,
desde que não sujem de sangue o cartão postal. Desde que mantenham as massas
sob controle, por chantagem, coação e distribuição das migalhas. Quando
Lindbergh mudou-se para a Baixada e elegeu-se prefeito de Nova Iguaçu, foi
desprezado por parte da esquerda. O que era um gesto de coragem e ousadia
democrática foi visto como oportunismo carreirista e fisiológico. Na Baixada,
assassinatos políticos ocorrem às dezenas, as milícias se impõem. A grande mídia
não quis saber: "Um dia o progresso da capital civilizaria a escória." Pois é,
enganaram-se: a Baixada exportou seus métodos políticos e colonizou a capital. As
polícias levam e trazem as artes macabras de seu ofício. O assassinato de Marielle
foi um sinal trágico. Quem se importou, nas elites? Quem mandou matar Marielle?
Até hoje não se sabe e a rotina não se alterou, naturalizando a abjeção. Esta
semana, a terraplanagem política da Baixada, que se voltou contra os feiticeiros,
inoculou segmentos do PSOL, que tentaram anular a candidatura à vereança em
Caxias de um jovem negro, socialista e evangélico, Wesley Teixeira. A justificativa?
Ele recebeu recursos de Armínio Fraga e outras pessoas que têm dinheiro e alguma
coisa na cabeça, além de seus próprios interesses, pessoas que se convenceram de
que o fascismo avança no Brasil e seu berço está aqui, e que precisamos de gente
capaz de arriscar a vida por seus ideais, ou não teremos país nenhum. O diálogo
entre Wesley e seus apoiadores foi transparente e público. Esses segmentos
psolistas se acham radicais. Isso é sectarismo infantil, o mais velho, estreito e
melancólico, não tem nada de radical. Radical é Wesley, ao se levantar contra a
corja de assassinos que domina a Baixada há décadas e foi aliada dos porões da
ditadura. Radical é quem não teme o dinheiro porque confia na própria
integridade. Radical é quem sabe que seu compromisso não tem preço.