Polícias: a “autonomia” ilegal e antidemocrática
Projeto que visa blindar PMs de controle institucional avança no Congresso e pode enterrar décadas de luta pela reforma do modelo policial. É preciso barrá-lo: poder político e população não podem ficar ainda mais reféns das armas
A proposta é um insulto à democracia, uma ameaça da maior gravidade ao que nos resta do Estado democrático de direito. A transição política, no Brasil, em função de sua natureza negociada com os representantes do antigo regime, permaneceu incompleta, por várias razões, entre as quais porque os militares egressos da ditadura lograram inserir o artigo 144 na Constituição, por meio do qual nos tornaram herdeiros do modelo policial forjado na ditadura. Esse fato dramático produziu um enclave institucional: em plena democracia, as polícias preservaram práticas, crenças e valores racistas, classistas, refratários à democracia, ao poder civil, à autoridade republicana.
Esse fenômeno – a resistência ao poder político, civil e republicano – só foi possível por conta da cumplicidade de setores dominantes do MP e do Judiciário, e da pusilanimidade de lideranças políticas. Por isso, a luta dos democratas, na segurança pública, sempre foi pela mudança do artigo 144, pela mudança do modelo policial que herdamos da ditadura, visando acabar com a resistência das polícias, civis e militares, à autoridade civil política e republicana. Sempre denunciamos o fato de que os governadores – com variações de grau no tempo e no espaço – não comandam, efetivamente, as polícias. Eles não o admitem para não parecer fracos e para não romper alianças com as polícias – das quais, na prática, eles são reféns.