Luiz Eduardo Soares é entrevistado pelo FLUXO – Estúdio de Jornalismo
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Radicalizando a tão equivocada quanto difundida noção de que Direitos Humanos são antagônicos à segurança pública, o Bispo Marcelo Crivella levou à campanha no segundo turno no Rio de Janeiro a novas profundezas ao apresentar defensores dos DHs como aliados do crime organizado. E, na última semana, estendeu seus ataques ao antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares que, após ajudar na campanha de Alessandro Molon pela REDE no primeiro turno, hoje apoia e milita pela eleição de Marcelo Freixo.
Chamado de “amigo de bandido”, “conivente com o tráfico” na TV, no rádio e em correntes apócrifas por celular, Luiz Eduardo voltou ao noticiário para enfrentar, como é de seu costume há 20 anos, a saraivada dos que insistem na violência como instrumento maior no combate ao crime. E vive, mais uma vez, seu carma e vocação: “minha função é explicar para as pessoas que, mesmo que não se importem com Direitos Humanos, pragmaticamente é uma sandice aceitar execução. Isso está na matriz da corrupção e acaba fundindo o Estado e o crime. É preciso compreender isso”.
Luiz Eduardo é dos maiores especialistas em segurança pública do Brasil. Já foi secretário de segurança do Rio de Janeiro no governo Garotinho (e foi demitido ao denunciar a banda podre da PM carioca), ocupou a Secretaria Nacional de Segurança Pública no início do governo Lula (e foi demitido por pressões políticas contrárias a seu progressismo), elaborou a PEC 51 e um amplo plano de refundação das polícias brasileiras. Há décadas estuda e defende um paradigma de segurança baseado em redução de violência institucional e estruturas que colaborem para uma polícia e um judiciário mais impermeáveis ao crime e, como corolário, mais honestos e funcionais.
Por isso lhe doem tanto as acusações do bispo. E por isso teve o apoio de centenas de personalidades que assinaram uma defesa a ele. Por isso leu uma carta aberta à Crivella. Por isso ganhou alguns direitos de resposta no horário reservado ao candidato da Igreja Universal. Ainda assim, em tempos de hiperconexão e pós-fato, esse é o tipo de estrago quase imune ao esclarecimento. E também por isso decidimos procurá-lo para ir além das calúnias e da veracidade – e refletir sobre como a baixaria eleitoral de Crivella pode ser reveladora de algo mais grave.
Um projeto de poder e a cristalização de percepções, possivelmente majoritárias, que segregam de uma vez a defesa dos Direitos Humanos da Segurança Pública. Que confirma o abandono da legalidade em nome de uma lógica de guerra que, na prática, produz uma economia da violência e do arrego policial que desfaz as próprias fronteiras entre o Estado e o crime.
Feita em cima da hora, apenas com um celular, era para ser uma entrevista sem cortes, como de costume no Fluxo. Mas pela urgência da pauta acabamos dividindo em trechos menores em vídeo e publicamos a íntegra – com muito mais conversa – como estreia de nosso primeiro Podcast. Que, graças à dicção vacilante do âncora que vos tecla, vai se chamar “Disfluência”.
Além dos temas citados acima, há uma ótima discussão sobre o importante e contraditório papel das Igrejas Evangélicas na composição da crise social carioca.
Espia, ou melhor, escuta. E espalha?
Câmera: Susana Jeha
Edição e apresentação: Bruno Torturra